Mel Duarte: o futuro da poesía pasa polo SLAM, pola proximidade ao público.

Porxmeyre

21/06/2020

Mel (Amaro) Duarte, naceu no ano 1988 en São Paulo, non chega pois nin aos trinta anos e podémola adscribir ao círculo poético paulista. Parece ser que comezou a escribir moi nova (8 anos) e sentiu de cerca a arte (seus pais, de cultura musical, levábana a museos e eventos culturais), mais fundamentalmente a arte urbana do extra-radio, da periféria urbana. Pode parecer una anécdota, con todo é máis que iso; referímonos a cando os pais a obsequian cun libro de Fernando Pessoa. Primeiro ela atopa una linguaxe en parte diferente da súa. E, despois, Mel comeza a confeccionar listaxes de palabras que rimaban (por exemplo, palabras que riman en -ar). É isto importante porque, na niña opinión, resulta como una escola ou preparación para a versión slammer da poesía na que ela se vai significar. Iso, e a participación nos Poetas Ambulantes. Poetas Ambulantes dedicábanse a achegar poesía, escrita ou oral, a utentes dos medios de comunicación públicos. En Poetas Ambulantes ela aprendeu a enfrontar o público, como interactuar ( de ser posíbel) e como chamar a súa atención.

Mel Duarte, sendo tan nova ( e sendo negra, valor engadido pola dificultade endadida) é considerada xa un dos nomes principais na renovación poética brasileira. E iso porque Mel sempre procurou atopar formas de achegar a poesía á xente. Non renuncia á poesía escrita, poesía no papel. Mais ela sabe que @s negr@s sempre tiveron un acceso á culura e á poesía máis difícil que os brancos. Entón, ela decide, porque ela sabe, que é moito máis doado chegar a ese público desde a oralidade, e será desa forma que oriente o seu labor poético. Alén de que no Brasil non hai moito hábito lector, menos entre as mulleres, a aínda menos entre as mulleres negras..

Slammer. As competición de SLAM acontecen reunindo una serie de poetas que teñen tres minutos para declamar até tres poemas da súa autoría. Teñen certo parecido coas nosas regueifas, mais só iso, parecido. No Brasil hai competicións de slammer desde 2008, importadas dos USA ou mesmo da Franza. E é importante sinalar n@s slammer a influencia da cultura rap (precisamente será una rapeira quen prologue o seu primeiro libro), hip-hop, é decir da cultura urbana marxinal.

Como poeta negra, ela recoñécese herdeira da tradición (rebelde, anti-racista, feminista) que lle chegou desde  a poesía de, por exemplo, Conceção Evaristo, de Elisa Lucinda (as dúas xa estiveron en artigos da Frradura II), Esmeralda Ribeiro, Elizandra Souza, Maya Angelou, Carolina María de Jesús (esta tamén) ou Stela Patrocínio. Na niña opinión isto é moi importante porque fala da tradición dunha poesía de muller negra fondamente preocupada polos problemas raciais e particularmente dos probelmas da muller ( aínda por riba negra). E iso, nun país como o Brasil, onde o racismo e o machismo resultan evidentes, ten un valor incalculábel.

Precisamente por privilexiar a poesía oral, non nos foi moi fácil atopar poemas escritos seus, en versión íntegra, porque fragmentos si aparecen con máis frecuencia. Con todo, vostedes poderán ler una selección dos mellores que atopei e, finalmente, tamén dexarei ligazón onde poidan comprobar a dimensión oral da súa poesía. Recoméndolles vehementemente que a escoiten.

Mais, antes, non pode faltar referencia á súa obra e eventos principais en que participou. En 2016, é convidada estrela na PLIP (Feira Literária Internacional de Paraty). E é a primeira muller negra a vencer no Rio Poetry Slam. Tamén representou a literatura brasileira en enventos en Angola E é una das organizadoras da versión paulista do Slam das Minas. En canto á súa obra cabe salientar os Fragmentos dispersos (2013), mais, sobre todo, Negra nua crúa (2016, traducido ao castelán en 2018), convertido en audiolibro en 2017. No 2019 xa optará polo formato discográfico para o seu Mormaço, neste mesmo ano participa na antoloxía Querem nos calar.

Hai dúas cousas que indican que Mel Duarte non é flor de un día. Primeira, ela ten hábito de recoñecer poesía en calquera entorno que a rodea, en todas partes; quen é capaz disto nunca deixará de ser poeta. E, ademais, que ten vontade de chegar ao público coa súa mensaxe, porque cre nesa mensaxe e procura a mellor maneira de acceder á xente, que resulta a oralidade: é moito máis fácil que moita xente te escoite á vez..que que moita xente te lea á vez

            Antes de deixalos xa coa poesía de Mel Duarte, poden vostedes consultar nesta ligazón unha análise breve de Lorena Barbosa da Negra nua crua.

Velaquí, pois, a súa poesía en versión escrita. Despois non perdan a versión oral na que ela se move tan ben, virá a continuación.

Meu nome é doce mas não se iluda

Em tempos de guerra é preciso convocar seu Buda

Astuta sigo na labuta

Ta bom! Você quer espaço?  Eu chego pro lado, não precisa de disputa

Sigo a minha intuição, vozes por vezes sussurram em meus ouvidos

Pois na rua qualquer movimento suspeito é identificado como perigo

Quando vejo homens abusando do livre arbítrio,

Enquanto irmãs fraquejam sem um ombro amigo.

Nessa selva de pedra, meu teto é de cinco

Sou atleta, exército minhas palavras para acertarem seu íntimo

Um tanto quanto inquieta quando a vida impõe seus labirintos

Preta.

Poeta.

 De raro instinto

Não quero festa cara, nem roupa de gala

O que eles gastam em um dia é o mês que minha mãe trabalha

Não sou ambiciosa meu sonho não é riqueza

Eu quero invadir escolas com histórias negras!

Pois durante anos fomos silenciadas, amarradas

Abusaram das nossas, as convenceram de que não eram nada

Só que a minha geração não fica mais calada,

Hoje minha boca é meu escudo e minha espada.

A sociedade não espera pelo revide

Enquanto eles pedem por intervenção militar

É hora do levante e não haverá reprise!

Pois feminicídio agora é palavra nova

Que uma classe reacionária nem sabe usar,

mas mesmo assim, estampam cartazes e na avenida paulista saem com ela para desfilar

Esse tipo de coisa me causa ânsia de vômito,

Pois mais de 400 mulheres morrem ao mês, sendo 60% delas negras

Só que esses dados sempre são omitidos.

O machismo mata todos os dias!

Mas foi-se a época em que nos escondíamos

 Pois hoje já posso avistar,

no horizonte um batalhão de mulheres em punga

Prontas para atacar

Agora já é tarde, estamos espalhadas

Temos um legado a retomar

Por hora, 40% de mulheres,

Empoderadas

Mas venho pra dizer que essa estatística vai mudar

E quando menos esperarem,

Racistas, machistas

Vocês terão que se curvar

………………………………………….

Verdade seja dita
Você que não mova sua pica para impor respeito a mim.
Seu discurso machista, machuca
E a cada palavra falha
Corta minhas iguais como navalha
NINGUÉM MERECE SER ESTUPRADA!
Violada, violentada
Seja pelo uso da farda
Ou por trás de uma muralha
Minha vagina não é lixão
Pra dispensar as tuas tralhas

Canalha!

Tanta gente alienada
Que reproduz seu discurso vazio
E não adianta dizer que é só no Brasil
Em todos os lugares do mundo,
Mulheres sofrem com seres sujos
Que utilizam da força quando não só, até em grupos!
Praticando sessões de estupros que ficam sem justiça.

Carniça!

Os teus restos nem pros urubus jogaria
Por que animal é bixo sensível,
E é capaz de dar reboliço num estômago já acostumado com tanto lixo

Até quando teremos que suportar?
Mãos querendo nos apalpar?
Olha bem pra mim? Pareço uma fruta?
Onde na minha cara ta estampado: Me chupa?!
Se seu músculo enrijece quando digo NÃO pra você
Que vá procurar outro lugar onde o possa meter

Filhos dessa pátria ,
Mãe gentil?
Enquanto ainda existirem Bolsonaros
Eu continuo afirmando:
Sou filha da luta, da puta
A mesma que aduba esse solo fértil
A mesma que te pariu!

……………………………………

Pense grande, sonhe alto
Pra estar por cima tem que começar
Por baixo
Pense grande, sonhe alto
Pra estar por cima tem que começar
Por baixo

Você quer a vitória?
Então dê o primeiro passo
Mas saiba que é difícil
Nem pense que vai ser fácil
A vida cobra muito
São muitos obstáculos
Nem pense em desistir
Não abrace o fracasso
Amigos poucos tem
Na hora do vintém
Você vê quem é quem
Quem quer seu mal quem quer seu bem
E sem dever a ninguém
Eu não serei refém
Meu pensamento é livre e
Movido a ginseng

Poucos estendem a mão procurando ajudar
Muitos querem seu fim querendo te derrubar
Na beira do abismo não tem chão para pisar
Não dá pra confiar só tem mão pra te empurrar

Por isso vo aos pouco
Desviando dos pipoco
Tô passando mo sufoco
Mas eu vou no meu esforço
Dinheiro trás conforto
Mas também trás ilusão
Rimas não vem da nota
Saem do meu coração

Pense grande, sonhe alto
Pra estar por cima tem que começar por
Baixo
Pense grande, sonhe
Pense grande, sonhe alto
Pra estar por cima tem que começar
Por baixo

Essa é pra aqueles
Que não desistem de lutar
Que buscam algo grande
E almejam alcançar
Vida não vale nada sem motivo pra lutar
O que vale a intenção e algo em que acreditar
Pra estar no topo
Tem que escalar
Um degrau de cada vez
Mas saiba onde pisar
Do mal se esquivar
Não pode recuar
Porque a luz no fim do túnel
Poderá se apagar
Enquanto tiver ar preenchendo
O meu pulmão
Enquanto tiver sangue bombeado
Coração
Eu vou seguir em frente com muita
Disposição, muita disciplina e responsa na missão
Ela tem um sonho
E sonha em ser alguém
Ele tem um sonho
E sonha em ser alguém
Sonhar não vale nada se você
Não for buscar
O sonho é só um sonho
Se você não acreditar

Pense grande, sonhe alto
Pra estar por cima tem que começar
Por baixo
Pense grande, sonhe alto
Pra estar por cima tem que começar
Por baixo

(Tem que começar por baixo)

………………………..

Menina Melanina:
Passou por incertezas
Momentos de fraqueza
Duvidou se há beleza
No seus olhos escuros,
Seu cabelo encrespado,
Sua pele tom noturno,
Seu gingado erotizado.

Algumas por comodismo não se informam, nem vão atrás
Pra saber da herança que carregam, da força de seus ancestrais!
Preferem acreditar que o bom da vida é ter um belo corpo e riqueza
E que chegará ao ápice de sua carreira quando se tornar a próxima Globeleza.

Preta:
Mulher bonita é a que vai a luta!
Que tem opinião própria e não se assusta
Quando a milésima pessoa aponta para o seu cabelo e ri dizendo que ele está ‘’em pé’’
E a ignorância dessa coitada não a permiti ver…
Em pé, armado,
Foda-se! Que seja!
Pra mim é imponência!
Porque cabelo de negro não é só resistente,
É resistência.

Me aceitei, quando endredei
Já são 8 anos de cultivo e paciência
E acertei quando neguei
Esse padrão imposto por uma mídia de uma sociedade que não pensa.

……………………………………….

Não é de hoje que calam meu grito
Abalam meus instintos, ambos pela dor
Por ter nos olhos esse brilho
Essa herança bem quista dos genes de meu bisavô
Não é só pela preta cotista, a casa própria da diarista
Ou qualquer outra conquista
Dos que fazem parte da história de uma terra que você usurpou
É ver o espaço ocupado, a mulher preta, pobre no doutorado
Retomando seu legado, sem dizer: Sim, senhor!
Nos querem supérfluas, apáticas, sem senso crítico
Nos moldam em estéticas, inépcias, estratégia sádica orquestrada por cínicos
Eu rejeito teus dogmas e mantenho a perspicácia no meu raciocínio
Ainda observo bem atenta os que compactuam com a tua lógica ilícita de extermínio
Senhores em seus altares, disputando egos maiores
Supremos, palácios, planaltos, pra que possam se sentir superiores
Influentes na arte da intolerância
Não sei como se cria tanta mente ambiciosa, tolhendo anciã sabedoria
Nos oferecem uma mídia abastada
Interesseira e interessada apenas na morte mas não em quem mata
Como será que um corpo suporta tanta violência inescrupulosa?
Como é possível dormir com as vozes em minha cabeça de tantas irmãs mortas?
Nossa almas pedem por socorro e ninguém nota!
Eu só peço a Oyá que me guia
Mantenha-me longe dos senhores fardados do mato e sua milícia
Me diz, o que te assusta?
A farda, a gravata ou a luta?
Perceba que nessa disputa, conheço teu caráter pelos heróis que cultua

……………………………

Delitos

Fim de noite, fim de festa, nosso começo
Toques sem pressa, vontade de se despir sem anseio
Dançar sem ritmo certo, passo a passo seus movimentos eu aprendo
Suor escorre do rosto, suas mãos alcançam meus dedos, eu me rendo…

Sem regras e horários, só o momento
Eu, você, um certo lugar, tanto faz o contexto
Já é tarde, a música para, eu recomeço
você me abraça, oferece peito, eu adormeço

Juntos, nos afogamos num mar de devaneios
minhas rezas, suas preces nossos receios
Os corpos fervem e as bocas já não possuem freios
Seu santo é fraco e você se perde entre meus seios

E entre tantos delitos e declarações
Abusamos de nós, como provam os arranhões…

E quando menos esperar, vou invadir seu quarto
Arrancar os teus lençóis sem perguntar se posso
Sussurrar, te fazer estremecer…
Possuir. Corpo, pele e ossos.

……………………………………………

E velaí vai ligazón para escoitar a Mel Duarte declamar, para aversión oral da súa poesía.

Porxmeyre

Deixa unha resposta

O teu enderezo electrónico non se publicará Os campos obrigatorios están marcados con *

Skip to content