Lilian Rocha, a poesía gaúcha

Porxmeyre

27/12/2020

Nestas miñas presentcións da poesía de muller brasileira, os tres grandes centros ( São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janiero) son os máis representados e iso é lóxico desde que é aí onde se desenvove máis actividade poética. Con todo, xa con Jarid Arraes excursionamos á poesía nordestina de cordel, que se aparece como unha realidade recoñecida, diferenciada e mesmo protexida aínda que puidera e debera ter máis e mellor protección. Non sucede o mesmo coa poesía do sur, coa poesía gaúcha do sur, e aínda que xa vimos a poesía de Angélica Freitas (Pelotas, Rio Grande do Sul) sentimos a necesidade de acrecentar máis nomes para ofrecer unha imaxe o máis xusta posíbel. Como o de Lilian Rocha, de quen hoxe presentamos a súa poesía, nativa de Porto Alegre, tamén no Rio Grande do Sul. Nesta entrevista fala ben claro de cal sobre cal é a situación da poesía de autoras negras no Brasil, non perdan, por sinal, a denuncia do “descoñecemento” ou ruído de silencio que quer apagar a grande obra de Carolina Maria de Jesus que serve como espello do que acontece coa poesía de muller negra brasileira. Vexan como Lilian presenta e homenaxea a poesía gaúcha de Oliveira Silveira. Este ocultamento da cultura/poesía gaúcha é denunciado nesta entrevista a Lilian Rocha. Como poeta gaúcha é presentada por Danilo Lima https e como tal quero eu presentala tamén.

Lilian tivo desde cativa acceso á cultura escrita, aos libros, e foi unha lectora bastante precoz e entusiasta. E é importante non esquecer que, tamén desde cativa, cultiva o amor pola sonoridade da lingua, declamar, cantar, falar, dotar de dimensión concreta á palabra. É na adolescencia cando toma conciencia do valor e características, do que significa ser negra e muller no Brasil.

Polo momento a súa obra por min coñecida é esta:

A vida pulsa – Poesias e reflexões. Porto Alegre: Editora Alternativa, 2013.

Negra soul. Porto Alegre: Editora Alternativa, 2016 (poesia).

Menina de tranças. Porto Alegre: Editora Taverna, 2018 (poesia).

É coautora do libro Leli da Silva – Memórias: Importância da história oral (2018) e coorganizadora da antoloxáa Sopapo Poético – Pretessências(2016), e tamén do Sarau Sopapo Poético. A importancia dos saraus para as autorías femininas negras non é nada novo nestas presentación miñas, mais convén lembralo. Ser negra xa conleva pertencer á marxinalidade nun  país tan racista como o Brasil. E ser poeta conleva a necesidade de que esa obra, esa poesía, teña recepción, sexa recibida polo@s destinatari@s, por iso os saraus e calquera evento onde desde a oralidade se pode chegar a moita xente é moi importante. De aí tamén que fagan moito uso das redes sociais e, concretamente o youtube, lles sexa unha plataforma moi útil. Tampouco será novo lembrar que a poboación negra ten un poder adquisitivo menor que a branca.

Se ser muller e poeta no Brasil non é doado, ser muller negra e poeta é aínda máis complicado. Entre otras cousas, ademais da temática propia relativa aos intereses ónticos propios do mundo interior de cada persoa, a muller negra estimo que precisa reafirmarse na súa negritude e denunciar o racismo á vez que o machismo. E esta é a temática preferente na selecta que a continuación convido a ler.

(Na Sina)

NEGRA

Negra
Palavra
Bendita
Que saiu
De tua boca
Como insulto
E que transcende
Em minha dança
Em minha história
Em minhas crenças
Em minha luta
Em minha vitória
Que corporifica
Em meu sorriso
De perplexidade
Da tua pobre
Medíocre ignorância!

CAPITÃO DO MATO

Capitão do mato
Por que matas
A tua consciência?
Com a matança
Dos teus
Eu só te pergunto
Afinal… quem morreu?
Reza a lenda
Que foi o teu EU!

PRECISO ANDAR

No primeiro instante
Uma tristeza profunda
A terra sob os meus pés
Treme
Uma incerteza
Paira no ar
Logo mais
A respiração se estabiliza
O reflexo e a memória
Se dão as mãos
Como assim resistência?
Por acaso em algum momento

Da vida
Deixei de ser resistência?

Meu corpo negro
Estereotipado, objetivado
E não será agora
Que será diferente
Olhos mais abertos
Intuição
Audição da alma
Juntos de mãos dadas
Com os meus
Eu te cuido
Tu me cuidas
Nós nos cuidamos
E seguimos
Pois a bala tem alvo
E na palheta de cores
O gato pardo
É Negro!

LÂMINA

Tua fala
Machuca mais
Do que tiro
A tira roupa
É um rombo
Sem pedir licença
Sem bater na porta
Sem aviso prévio.
Que a lâmina
Da tua língua
Não te corte

Por inteiro
Pois o veneno
Não caberia
Na Farmacolândia
Existente em cada esquina
Das podres cidades
Entorpecidas
Pela hipocrisia
Disfarçada de realidade.

GARGANTA

Na garganta
Um grito mudo
Paciência mulher…
Cansei de paciência
De inocência
Roubada
E do sorriso
Estampado no rosto
Como cartão de visita
Quero que o meu grito
Ecoe
Reverbere
E ressoe
Em todas as mulheres
Peito a peito
Olho no olho
Sororidade
De manas

Que se reconhecem
E amanhecem
Transformadas
Pela vibração
De cada voz feminina
Liberta, igual
Salve
Negra bendita.

CHOCOLATE

Chocolate
Chicote
Chocolate branco ou negro?
A mão que bate
Reverbera a história mal contada
Reativada e permitida
Escancaradamente
Branca
No doce amargo
Ao leite.

FIO DE PRATA

Sabes Negro
Hoje
Vejo-te
Percebo-te
Reconheço-te
Não pela tua cor
Tua marginalização
Tua resistência
Mas por algo que nos une

Nosso fio de prata
Ligado no plexo
De nossa Ancestralidade.

MARCAS

Na pele a marca
Do rasgo profundo
Cerzido
Pelas histórias distorcidas
De um povo
Roubado em suas memórias
Seu grito calado
Revela ira
Que reverbera em seu peito
Sufoco
Mas não morro
Sou um sobrevivente!
Fui rei, guerreiro, trabalhador
Escravizado, liberto, enganado
Desempregado, favelado, presidiário

Amaldiçoado.
Fui princesa, mãe, trabalhadora
Escravizada, ama de leite, violentada
Liberta, enganada
Prostituída, sexualizada
Rebaixada, humilhada
Chega! Meu grito não mais se cala

Agora ressoa
Respeite a minha tez
Fruto da origem da Vida
“Gen” de todos os povos
Dos meus olhos

Não sairão mais lágrimas salgadas
Mas sim o vislumbre
Da saga vencida.

………………….

(Na Acrobata)

Saudade

Na carta amarelada
Letras esfareladas
Recordações
De um tempo passado
Com cheiro
De terra molhada
Vaga-lumes
Transeuntes
De uma noite estrelada
A lambida do selo
Acabou
Os dedos
Molhados de cola
Já não tenho a destreza
Da escrita com a caneta
Agora o meu corpo

São dois polegares.

Choro

Na chuva
Miúda dos días
O choro
De vidas
Escorre
Morro abaixo
Salvando a cobertura
Prisão
Murada
Envidraçada
Sem reflexo
Sem empatia
Sem nada.

Agro

O Agro
É nosso
Agro
Tóxico
Mata-se
Pela boca
A fome
Não existe
Ilusão
Dos esfomeados
Alucinados
Pela droga
Vendida
Em cada esquina
O Agro
É pop.

Fêmea

Na boca
Ainda úmida
Da tua saliva
Meus lábios
Estalam
Prazer e libido
Quero repetir
A dose
Da embriaguez
Que me tonteia
Os sentidos
Tremo de cima
Abaixo
No soar
Do teu gemido
Sou tua fêmea
Faça agora
Todos os meus
Caprichos.

……………………….

(Na LiterAfro)

Nossos olhos

Um grito ecoa na noite
milhares de vozes
silenciadas
um tiro, dois tiros… seis tiros
um soco no estômago
um vômito que vem com raiva
com medo, com desesperança
mais uma de nós abatida
feito caça
feito bicho.
nossos olhos
estão cheios d’água
o nosso espelho
foi estilhaçado
as vozes presas
no desespero
da verdade nua e crua
se dão conta
que a carne mais barata
continua sendo a da mulher
negra, periférica, lésbica, militante.

Pixaim

meu cabelo
incomoda
causa surpresa
indignação
mostra postura
presença
negra
na sociedade
eurocentrada
do liso molejo
da escravidão
do estilo
aceito.
sem preconceitos
gosto dele assim
crespo
mirando o céu
desenhado à nanquim
viva
o meu cabelo
pixaim!

Tropas de São Benedito

A cara preta
da revolução
foi esquecida
bravos guerreiros
vencidos
em uma luta
perdida.
porongos
emboscada
maldita.
e a liberdade
sonhada
ficou na lembrança
da lança
manchada de sangue
na terra
farroupilha
um grito
na mente
ecoa no silêncio
LANCEIROS NEGROS
Presente!

Urbanismo

a senzala
urbana
expulsa
dos grandes centros
reverbera
seus ataques
nas encostas dos morros.
ao centro
a casa grande
sufocada e murada
surta!

XXVII.

e a vida pulsa
na cadência da negra soul
fruto da minha pretessência

XVIII.

no solo úmido
só sinto
as lágrimas
de uma nação

XX.

novembro,
setembro,
maio…
o que são três meses
em face de 400 anos
de escravidão?
consciência humana,
emboscada maldita,
dia da mentira…
balelas da meritocracia
fascista e racista

XXV.

frio
em um casarão vazio
operação inverno
tapa buraco
nas consciências
vazias
dos governantes
aquecidos
em suas torres
de prepotência.

(Todos de Menina de tranças)

……………………

(Na Ruido Manifesto)

A FOLIA ACABOU

A folia acabou

Olhos marejados

De saudade

Do sorriso solto

Da dança fácil

Dos pequenos flertes

Da sede inacabável.

A folia acabou

Saudade

Da verdadeira história

Retratada

Da liberdade de expressão

Das bandeiras

E gritos de alerta

Da empatia

Pela felicidade.

A folia acabou

Restou a reforma da previdência

A educação

Ladeira abaixo

O feminicídio

O genocídio dos jovens negros

O desemprego.

A folia acabou

Restou um Brasil

Que chora as suas dores

Lágrimas que tentam lavar

E curar

O massacre

Do trabalhador brasileiro.

*

Na boca

Salgada…

Ah, mareada

Sereias

Mergulham

No êxtase

Profundo

Do gozo

Da Vida.

…………………………

Aquí podedes escoitala

Porxmeyre

Deixa unha resposta

O teu enderezo electrónico non se publicará Os campos obrigatorios están marcados con *

Skip to content