Luz Ribeiro: muller e negra, o sangue que ferve…

Porxmeyre

01/11/2020

O seu nome é Luciana Ribeiro, mais faise chamar Luz Ribeiro. Luz Ribeiro é muller multifacética, se vostedes consultan a Wikipedia acharana descrita como poeta e pedagoga. Se vostedes len o seu FaceboooK atoparán que alñi se define como artista. Abriu os ollos por primeira vez en São Paulo, no ano 1988. E fíxose consciente de que é muller e  de que é negra, e que por tanto sofre unha dupla exclusión, que é marxinada por ser negra e por ser muller. E non aturou, non consentiu. Ela rebelouse. Ela rebélase continuamente. A xente rebelde sempre ten a niña admiración. Sen rebeldía non hai progreso. Por outra parte excluír da sociedade, marxinar da sociedade unha importantísima parte da poboación porque é muller constitúe unha grandísima bobagem, unha auténtica parvada ou parvoíce só propia de seres incultos ou que detentan un complexo de superioridade que como persoas os reducen á mínima expresión. No entanto, eles teñen o poder. Hai que loitar. Excluír da sociedade, marxinar unha persoa por ser negra é tamén unha auténtica bobagem, unha auténtica parvada…crer que a cor da pel determina a intelixencia da xente é de seres estúpidos, estupidamentre estúpidos. No entanto eles teñen o poder. Hai que loitar. Hai que rebelarse.

Cando isto sucede expresado na túa propia lingua…desde este lado Atlántico non son capaz de imaxinar totalmente o que a persoa debe sentir.

E se por riba naces nunha periféria dunha grande cidade…

Por algures teño lido que ás veces ela, Luz Ribeiro, non se sente poeta. Resulta lóxico se a lingua que falas te vai integrar na tradición que ensina nas escolas quen precisamente te marxina. Mais tamén é certo que ela é artista, pois tamén é actriz.

Entendo que cando es muller, muller e negra, no Brasil tes que loitar con todo o teu corpo, por que o corpo é a pel, e a voz, a palabra, o instrumento. Non é de estrañar entón que Luz Ribeiro se especialice na poesía falada (Slam), e que sexa unha extraordinaria slamer toda vez que tamén é actriz. Non é de estrañar que ela faga parte de colectivos poéticos como Poetas ambulantes, do Slam do 13 ou colectivo de artista contra o racismo Legítima defensa. E tampoco é de estrañar que o primeiro título publicado sexa Eterno contínuo (Selo do Burro, 2013). E tampoco é de estrañar que o segundo título (estanca e espanca) tamén faga referencia á inxustiza de permanecer estancad@s nunha tradición que afoga, ese peso que estanca, que enxordece, e a necesidade de axotar esa tradición, de reconstruíla precisamente a partir das voces silenciadas, tan arteiramente silenciadas. Por iso a súa poesía é poesía que é sangue que ferve.

A arte como liberación.

A poesía como voz rebelde.

O cotián, a vida do día a a día como materia artística, literaria. Porque a loita, a rebeldía, a necesidade de liberación non son cousa puntual de un día ou de un libro. É un presente contínuo que nos fai sentir estancados e é preciso espancar esa inmobilidade/invisibilidade que nos retén prisioneir@s.

Da súa poesía tense salientado a súa versatilidade poética Ben, iso quere dicir que Luz Ribeiro é unha poeta técnicamente rica, experiente e moi competente. Poderán comprobalo na selecta que a continuación presentamos. Desde a poesía rimada á poesía como obxecto visual no texto.

Si. Mais o que a min me importa é a rebeldía, a loita contra a marxinación por ser muller e por ser negra.

Desde este lado do Atántico, un brinde solidario con todas elas, as mulleres bravas como Luz Ribeiro!

Non deixen de visitar o seu Facebook, antes sinalado, porque aí hai moita poesía

Sobre a muller negra, racismo e poesía, recomendo moito ler este traballo de Renata Dorneles Lima no que se explica ben o  movimiento de movilización das persoas merxinadas, periféricas, encarnado nas voces paulistas de Luz Ribeiro, Lizandra Souza e Mel Duarte.

Imos coa súa poesía.

(En Margens)

……………………

(do seu blog)

dos dias de coléra

hoje eu resolvi abrir o peito
e enxergar o quanto que cabe aqui dentro
foram mais de 20 anos tentado me esconder
buscando uma resposta que me fizesse ver

entregando para tantos o que só cabe a mim
um coração sofrido que pra toda dor consente  um sim
e ao findar de cada experiência
sente mais os hematomas do que a própria consciência

preta blindada dos pés a cabeça
fria por necessidade, não por natureza
busco nutri meu  ori pra achar uma fortaleza
e ainda que fraca que  haja luz e aqueça

minha pele negra também busca um lugar ao sol
quero meu espaço mas vocês me cedem um anzol
dizendo que agora tenho uma vara pra pescar
mas não é  igual a sua,  né? É fácil notar

por  séculos convivemos com a escravidão
fomos soltos sem direito a um  pedaço de chão
o reflexo do mal feito é visto hoje nas quebradas
gente preta é a maior parte da classe favelada

os livros que eu li eram da filha da patroa
porque ela dizia que depois de um tempo isso enjoa
e até hoje por eles eu tenho obstinação
os livros na minha casa são  mais que objeto de decoração

por anos me afastei das línguas do  colonizador
achava que  estuda-las me tornaria talvez mais inferior
ignorância minha, achar que o venceria sem ler meu  manual de instrução
mas hoje eu  estudo  seus dialetos e renovo minha munição

cade vez que eu abro a boca eu  ouço o ruído dos chicotes
a impecabilidade da nossa língua foi adquirida nos açoites
pra me fortificar ouço palavras em yoruba
busco saber sobre orixás e patuás

ninguém esconde mais de mim minha própria história
e pode chamar mesmo  me de vitimismo meu plano de vitória
já tou ligando a diáspora daqui com a diáspora de lá
e logo  menos  vocês irão avistar    

uma legião vestida de preto que não abaixa a cabeça
não se contenta  com lei áurea, quer mais é ser realeza
vai devolver com diplomas cada soco e esporro
aqui ninguém mais marca toca e precisar asfixiamos com gorro

não alisarei meu  cabelo para ser aceita
hoje sei que nossa religião não é seita
todos esses mal tratos é uma dívida sem reparação
por isso eu quero cotas e tudo que houver cifrão

sou afilhada bastarda e não quero ser filha da pátria
sou a própria puta por tantas vezes sexualizada
minhas ancestrais tiveram as saias levantas
e daí que surge tanta gente miscigenada

por isso  não  vejo  beleza no processo de miscigenação
e nem quando os brancos exclamam: eu tenho  sangue de negão
essas frases não provam nada e só trazem mais dor
então faz um chá de bom senso e tome um gole por favor

não sou  filha de pardal, muito  menos de mula
não tenho didática  minha ira não cabe em bula
e se pode não ser menos preconceituoso, disfarce
pegue suas falsas verdade e engula

………………………………

se eu me morresse …

o que não mata dá um sooooooooooooooono
o que não mata dá uma dor aguda no estômago
o que não mata dá uns calafrios durante a noite toda
o que não mata dá uns tapas e te traz pra realidade
o que não mata dá sede
o que não mata lembra que você é seca
(e você nunca morreu por só secar)
o que não mata é o insuficiente pra atingir um corpo que já sentiu tanto


bicho ruim não morre
se fere
flagela
espanca
estanca
estanca
volta a espancar
quase estanca


mas porra
num morre


se eu me morresse
morria!
mas não morre
porre
socorre
corre
corre
corre
corre
corre
cansa


cansa…


bicho ruim
só fere
refere
se ferre


bicho ruim
só erra
nem sente que errou
num sente
imagina, bicho sente?


num sente


é calculista
prevê tudo
imagina cada dor que já causou

isso de ser bicho
que  não tem peito
que  faz do  pulmão o seu  amuleto
perde o  ar é mata tudo de asfixia

bicho ruim que de tudo lhe tocou
quando toca, é tocado
deixado de lado

é tipo cachorrinho
que dá carinho
pega ossinho
mas se fizer xixi dentro de casa
acabou!
xô, xô, xô …

se eu  me morresse
eu  mesmo  me matava
mas sou  lacuna
sou  inapropriada
eu  não  me morro
eu  mordo
mas não  morro

porque você não pegou  seu  falo
enfiou até o  talo e disse:
é assim? cê gosta

mas não seu  silêncio é baixinho
e me rasga lentamente
aos pouquinhos

sem perdão
eu  quase morro

mas eu  não sei  morrer
vivo a beira de um desespero
mas não sei morrer

noite passada eu  tentei
eu juro que tentei

mas

o que não mata dá um sooooooooooooooono
o que não mata dá uma dor aguda no estômago
o que não mata dá uns calafrios durante a noite toda
o que não mata dá uns tapas e te traz pra realidade
o que não mata dá sede
o que não mata lembra que você é seca
(e você nunca morreu por só secar)

o que não mata é o insuficiente pra atingir um corpo que já sentiu tanto.

……………………

take care

dias desses vai chegar um e-mail
dizendo oi e tantas outras coisas 
mas tudo em português
porque você gosta é de dominar tudo 
— linguagem e língua —

eu que também sou de possuir 
me vi pressa em um silêncio que não cabia fugas

apenas
baixos sussurros grudados na parede 
de som leve, mas de pesar oco 

suspeito que decodificou meus mapas
com um tempo de quem tinha toda a vida

pra fazer aquilo
enquanto eu reconhecia cada corte seu 
num misto 
de querer fugir 
de querer ficar 
de te querer levar 
de me querer partir 
             nos meios

procuro em imaginações o roxo da pele
o gosto do dorso 
queria descobrir teu código 
mas ao contrário de mim
não é presa fácil —
teu soco é dentro  
tilinta e lateja no pupilar dos olhos

a cada novo toque ficava eu presa a faixas de alta compreensão
— pele de solidão 

você sorriu (mais) depois 
e como se soubesse 
perguntava sempre num deslize 
tudo bem? 

eu ainda não toquei na mala
eu ainda não mexi na prateleira
eu ainda
eu ainda não 

despedi sem fim 



take care 

……………………….

ser eu poesia


noite como outrora nunca vista
as estrelas pareciam querer cair
com desvelo segurei uma delas
entre o polegar e o  indicador
e de modo  brusco, movimentei-a
move-la de lugar, ser eu passagem.

sobre minha cabeça
um mobile feito, pelo cria-dor
e cria-ação que sou me encantei, sorri
de modo  ingênuo exclui o  verbo chorar
anulei o  sofrer sempre presente
restou  alegria, ser eu  feliz.

tirei o chinelo e andei vagarosamente
contemplando o  grandioso e minucioso
todo pouco universo
grão de areia entre meus dedos
me causando leve incomodo
breves cócegas, ser eu leve.

olhos fechados pra ouvir o cochichar do mundo
ficar imóvel para encontrar ondas
e só, só esperar, esperar…
mas carrego por segurança amarguras
sendo assim por zelo, o tal sal em mim, não  tocou
pensei com dor, por ser eu dura.

cheiro forte ainda não provado
disparou  a adentrar pelas narinas
completou o vago que restava
apoderou-se do eu, encheu
nessa noite eu  fui amada
ganhei sentidos, ser eu autor.

me quis pequena e frágil
me desenhei menina afável
apaguei a frigidez, fui ágil
desenhei sonhos palpáveis
não derramei lágrimas por lucidez
e ainda assim lavei  a alma, ser eu  água.

noturna tudo fui
rodeada de sensações
sem gosto, sem cheiro
era cem expectativa
juro, pouco sei  da vida
e o que observo, escrevo
por nascer defeituosa, ser eu poeta.

…………………………..

pequenino

inefável, primeiro pensamento ao céu:

lilás, azul, rosa e com toques amarelados

aurora boreal? não, não era

foi simplesmente deus, querendo me fazer rir às 18 horas.

e no céu de aquarela, luzes e cores que eu jamais criaria

clima quente com vento gelado

fazendo da blusa meia-estação que eu usava a roupa perfeita.

ônibus cheios, porém meu lugar esteve sempre reservado.

nessa noite não ganhei colo da mamãe

ao invés disso cedi a ela o meu.

meu canto desafinado permitiu que eu ouvisse a melhor canção do dia:

o riso dos meninos.

do amor nada além de “oi”,

mas para quem não esperava nada, já bastou.

fotografei o que alcancei, pois mais tarde me pediram provas

mesmo sendo tudo verdade.

é bom que saibam que eu acordei sem sorriso,

mas vou dormir sendo este.

oração: que eu perceba sempre suas cocegas, amém.

sem obstinação em vê-lo, o sentir já me envolve.

hoje, eu senti deus bem pequeno, 

senti deus menino, inocente no desenhar.

que colore sem outra pretensão que não seja o agrado e o riso.

senti deus tão pequeno, que até agora ele permanece preenchendo meu coração.

……………………..

Do lado esquerdo

nas noites em que sua presença é real

e o meu eu se torna nosso

o sonho continua sendo o que é

e a felicidade chega parecendo ser verdade.

nas manhãs em que seu olhar nasce antes do sol

eu adormeço meus sentidos com seu calor

perco a fala, pouco ouço e busco óculos

e acredito poder amar de verdade.

nos dias em que o medo e a solidão aparecem,

eu finjo ter coragem e me escondo atrás de uma postura ereta,

dizeres complexos, exaustivos e enigmáticos

e a correnteza parece não findar no interno.

no dia em que eu conseguir mostrar que ultrapassou o prazer,

que foi além do passatempo, muito mais que satisfação e gozar

e não mais necessite do recíproco, mas do fazer entender,

talvez eu consiga dizer sim ou não.

na ausência do que finjo ser, se o eu aparecer,

a dor chegará preenchendo espaços e não haverá outras dúvidas,

e talvez eu volte a prosseguir enfim, sem pensar no que deixei para trás,

mas visando o que está ao lado para seguir em frente.

…………………….

Pode levar

a poesia leve

leve, leve, leve

leve, leve, leve …

leve consigo estes beijos faciais

quando os quero, boca

as palavras amigas

que já foram sussurros.

aqueles abraços completos

que esmurram meu estomago.

leve, leve, leve

dentro e fundo (psiu).

de que me vale

a folha pálida

que me cativa a escrever?

para que eu quero

canetas transparentes?

nada resolvem,

inquietam-me.

não trazem cura aos males universais

nem aos meus, quiçá.

e assim, eu sigo

com frases perdidas

rascunhos de eu’s, soltos

tolos, tilos e ralos.

tenho todo-mundo bem aqui

tem o mundo-todo, bem.

quero o verbo que conjuga gente

a gente, a gente-todo.

ando e canso  de ouvir:

poetas. quero só poesia

pois tem me doído

ouvir sem ler nos olhos.

anseio versos não recitados

mudas-falas

de poemas na planta do pé.

calem os sentidos

para eu sentir o outro.

ouvir as mesmas notas

mil e mais vezes

e sem escrever, in-ventar.

que o vento leve, leve

mudas folhas e canetas verdes

pra outros, pra longe

enquanto não, escrevo.

…………………………

(en Philos)

eu gosto de brincar que sou deus
fazendo chover nas plantas
da sacada do apartamento
que não cai chuva
com meu borrifador de água
comprado no armarinhos fernando
-que eu ganhei-

regulo a pressão da água
pra formar aquelas gotinhas de garoa leve
e canto perto das folhas
alguma música sobre chover
-acho-
que elas não acreditam na minha encenação
e brotam flores bonitas por piedade

assim como brotam mais dias
nessa quarentena
que já nem sei como se chama
sessentena seria?

eu que continuo morrendo
planto muitos poema
e poucos nascem
alguns natimortos
se inscrevem em editais

nunca
o notebook ficou tanto tempo aberto

enquanto a porta
tem dias que não se abre
nem para descer o lixo
amontoado
no canto da cozinha
versus
pensamentos amontoados
em algum lugar
da cabeça

tanta informação
que parece ser impossível
concluir um poema
-ou qualquer outra coisa-

com o que será que sonham os maus?
talvez nem sonhem
me auto respondo
eu deus onisciente de mim

já é maio
me lembram as flores

e um pequeno medo
me toca os pés
e sobe rapidamente até virar isso:
q u a r e n t a
é composto por quantos dígitos?

ouvir as vozes das minhas mães
foi o que faltou ontem
por isso o titubear da fé no hoje

me agarro ao filho
que se agarra
a tela de proteção
pra ver além
da tela do televisor
eu e ele
nos exercitando
para acreditar

eu deus que sou
pequena
rezo em cada linha poema
pra lembrar a deus
de não se esquecer
de mim

…………………….

(do seu Facebook)

menimelimetros –

os meninos passam liso

pelos becos e vielas

vocês que falam becos e vielas

sabem quantos centímetros cabem em um menino?

sabe de quantos metros ele despenca quando uma bala perdida o encontra?

sabe quantos nãos ele ja perdeu a conta?

quando “ceis” citam quebrada nos seus tcc’s e teses

“ceis” citam as cores das paredes natural tijolo baiano?

“ceis”citam os seis filhos que dormem juntos?

“ceis” citam o geladinho que é bom só por que custa 1,00?

“ceis” citam que quando vocês chegam pra fazer suas pesquisas

seus vidros não se abaixam?

…. num citam, num escutam

só falam, falácia!

é que “ceis” gostam mesmo do gourmet da quebradinha

um sarau, um sambinha, uma coxinha

mas entrar na casa dos menino

que sofrem abuso de dia

não cabe nas suas linhas

suas laudas não comportam os batuques dos peitos laje vista pro córrego

seu corretor corrige a estrutura de madeirite

quando eu me estreito no beco feito pros meninos “p”

de (in)próprio

eu me perco

e peco por não saber nada

por não saber geógrafa

invejo tanto esses menino mapa

percebe, esses menino desfilam moda

havaiana azul e branca e preta número 35 / 40 e todos

que é tamanho exato pro seu pé número 38

esses meninos tudo sem educação

que dão bom dia, abrem até portão

tão tudo fora das grades escolares

tão sem escola

nunca teve reforço

—- de ninguém

mas reforça a força e a tática

do trafico mais um refém

os menino sabem nem escrever

mas marcam os beco tudo

com caquinhos dos tijolo

pcc! prucê vê, vê … vê?

num vê!

esses meninos que num tem nem carinho

são muitas vezes pés no chão

num tem carrinho preso no barbante

pensa que bonito

se fosse peixinho fora d’agua

a desbicar no céu

mas é réu na favela

lhe fizeram pensar alto

voa, voa, voa

aviãzinho

o menino corre, corre, corre

faz seus corres, corres, corres …

podia ser até flecha, adaga, lança

mas é lançado fora

vive sempre pelas margens

na quebrada do menino passa nem ônibus pro centro da capital

isso me parece um sinal

é tipo uma demarcação de até onde ele pode chegar

e os menino malandrão faz toda a lição

acorda cedo e dorme tarde

é chamado de função

queria casa

mas é fundação.

tem prestigio, não tem respeito

é sempre o suspeito de qualquer situação

“ceis” já pararam pra ouvir alguma vez o sonho dos menino?

é tudo coisa de centímetros

um pirulito

um picolé

um pai uma mãe

um chinelo que lhe caiba nos pés

aviso:

quanto mais retinto o menino

mais fácil de ser extinto

seus centímetros

não suportam 9 milímetros

esses meninos

sentem metros.

…………………..

Sobre amor e resistencia

você já viveu um amor impossível hoje?

mais impossível que são paulo?

maior que ela?

maior que a correria e a fuligem cinza que paira aqui.

maior que os cartões de ponto, que marcam entradas e desviam estradas, caminhos.

maior que o congestionamento das marginais que me separa em margens extremas do jardim tranquilidade.

já viveu?

maior que os preços:

* da gasolina que ele usa pra ligar nossos pontos;

* do hot-dog prensado das madrugadas;

* das cervejas dele;

* das coca colas dela..

maior que todas as pontes.

maior que o tempo de entrega do monotrilho.

maior que o tempo de embarque na estação sé no horário de pico.

bem maior que o autoritarismo de quem gere a cidade.

maior que o descaso com as minorias.

maior que o valor da integração do ônibus com o metrô.

muito mais leve que as sacolas que as tias trazem do supermercado.

mais leve que as traves de pvc.

mais leve que as rabiolas que ficam presas no varal.

mais leve que os meninos que são puxados pela orelha.

mais doce que pingo de leite,

que geladinho da esquina,

que risada de criança suja de sorvete.

maior que a truculência da polícia militar,

que o genocídio da população negra,

que o descaso com rafael braga …

ahhhhh isso não. isso é mais que é impossível,

é desumano,

é doído,

é incompreensível,

é improvável,

é inadmissível,

é inaceitável …

:::eu só amo impossível :::

mas ainda assim, ele é bem grande, sabe?

cabe no colchão de solteiro dele,

no sofá da sala da minha mãe,

no filme ruim da netflix

é maior que a primeira crise de ansiedade minha que ele presenciou,

maior que a preocupação dele com a crise de ansiedade,

maior que minha alegria ao descobrir que a voz dele é antídoto.

maior que os sonhos precoces que temos,

maior que o número de pagodes que ele

conhece, maior que o golpe,

maior que a quantidade de poemas ruins e sem sentindo que eu faço.

mais bonito que por do sol na laje deitados em edredom,

que nossa coleção de nomes próprios,

que almoço de domingo,

que o quebradinho do dente dele que só dá pra ver de muito perto,

mais bonito do que o primeiro dia que eu acordei muito perto dele.

nosso amor é amor próprio sem ser propriedade.

é o inevitável absurdo.

é o indizível ( mas eu sou prolixa )

nosso amor é tudo que não cabe em um poema,

é tudo que não cabe nessa cidade,

é tudo que não cabe nessa revolução armada ….

mas eu que vou amadx, eu que revoluciono voo…

eu que sou dadx ao impossível, tento.

nós que somos plural, tentamos

………………………

E para rematar, aquí a poden ver e oír como a grande poeta e grande slamer que é.

Porxmeyre

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