O nome de Ana Elisa Ribeiro é, hoxe por hoxe, un dos de meirande recoñecemento no Brasil, sendo poeta traducida a varios idiomas.
Moradora no barrio da Renascença de Belo Horizonte, onde naceu e viviu a súa familia, formada na UFMG (Universidade de Minas Gerais), procede dunha familia onde non estaba precisamente ben visto o camiño das letras. Naceu en 1975 e, desde moi nova sentiuse inspirada/motivada pola poesía de Paulo Leminski, tamén se confesa influída por Antônio Carlos de Brito (coñecido com Cacaso), e por Ricardo de Carvalho Duarte (máis coñecido como Chacal). Comezou a publicar poesía en fanzines (Vitamina Rock de Wagner Merije) e xornais. O seu primeiro poemario édito, con 22 anos, é Poesinha (1997), despois (2002) deu á luz Perversa, ao que segiu Fresta por onde olhar, no 2008. Despois veu Anzol de pescar infernos (2013), Xadrez (2015) e Por um triz (2016, poesía para mozos e mozas), e Álbum (2018, Gañadora do Premio Cidade de Manaus). E tamén, como non podía ser menos, escribiu crónicas no Digestivo Cultural, que despois reúne en Chicletes, lambidinhas e outras crónicas, aínda que se confesa non ser unha cronista á maneira habitual, cando se escribe o talento é o talento, e Ana Elisa non é precisamente deficitaria niso. E minicontos.
Se digo que Ana Elisa domina moi ben o rexistro poético, pode parecer pueril ao tratarse dunha recoñecida poeta. Porén é a sensación que me queda cando leo poesía súa, tan versátil.
Se digo que na súa poesía tematiza a vida, tampouco semella nada orixinal. Porén, non lle coñezo especialización temática fóra da realidade máis próxima. Por iso precisamente é unha poeta que, nos seus textos, consegue proximidade co lector, algo sempre envexábel.
“Alguma necessidade de me expressar que talvez tenha a ver com a sobrevivência, com a loucura, com a angústia constante, com uma raiva domesticada”. Son palbras de Ana Elisa.
Debe ser salientado tamén o seu labor de divulgadora poética, de parcería con Bruno Brum.
Este artigo de Ana Elisa Ribeiro sobre a poesía, tamén é abondo interesante.
Non imos acrecentar máis nada. A súa biografía é rica, mais o importante son os poemas. Alá van.
Ciuminho básico
escuta
calado
a proposta rude
deste meu
ciúme:
vou cercar tua boca
com arame farpado
pôr cerca elétrica
ao redor dos braços
na envergadura
pra bloquear o abraço
vou serrar teus sorrisos
deixar apenas os sisos
esculhambar com teus olhos
furá-los com farpas
queimar os cabelos
no pau acendo uma tocha
que se apague apenas
ao sinal da minha xota
finco no cu uma placa
“não há vagas, vagabundas”
na bunda ponho uma cerca
proíbo os arrepios
exceto os de medo
e marco no lombo, a brasa,
a impressão única do meu dedo.
(Este é o seu poema máis emblemático)
Eu não tenho a alma de um corrimão.
Eu sou mais do elo, da liga e do laço.
Respeito para mim é coisa fina,
assim como o abraço.
Mais do que as transas e os beijos,
as mãos dadas me parecem mais sinceras.
Tão ruins quanto as promessas
são as esperas.
O cão
Por onde anda aquela sua lima
de alisar meninas?
Tens mesmo um bico doce, querido.
Delicinhas te acompanham nos eventos
e pagas as contas dos restaurantes.
Pois agora vamos ver quem é mais Cão.
Afinal,
sobrou-me uma casa com livros.
Além disso, relva, vidros
e um cachorro de patas curtas.
Restou-me também um filho,
mas isso já é luxo.
Fico em pé
ali, entre suas
três ou quatro guitarras.
Quem sabe eu te toco?
Se eu chego antes,
te pego com respeitos demais;
Se eu chego atrasada,
te pego casado e pai;
Então eu chego agora,
pra ver se é boa hora.
Poemas de Anzol de pescar infernos (Patuá,2013).
Peças de madeira em pau-marfim
A linha dos olhos
faz flechas da cor de futuros
As mãos formam conchas
de pegar contentamentos
Os pés são grandes como
as telas holandesas realistas
O corpo inteiro é um tabuleiro
de jogar jogos de azar
As costas quadriculadas
As coxas quadriculadas
A boca quadriculada
Onde eu me finjo
de dama
Antigüidade d’onde viemos
Péricles disse que a maior virtude de uma mulher
Era ficar calada.
Péricles se fodeu.
Péricles, hoje, levaria uma surra
dada por mil mulheres como eu.
EL NIÑO
a poesia
tem se escondido
atrás das coisas.
e tenho
me esforçado pouco
para encontrá-la.
talvez a encontre
já morta.
se envelhecida, (ressequida)
já será
vantagem.
— poesia
também sofre
na estiagem.
BURKEANA
aprendemos a ler fotografias
com um historiador:
os detalhes dos cenários
das mãos das poses
dos ângulos e dos objetos
nas paredes ou que repousavam
em mesas, menos ou mais adornadas
nas fotos da família
os uniformes eram novos
e as joias reluziam
até em preto e branco
já o outro ramo dos parentes
guardava uma pequena caixa
de fotos que quase não nos mostravam
para que não gastássemos
— com os olhos e as mãos sujas —
aquelas relíquias
INSTANTÂNEO #5
Só mesmo uma foto
para nos flagrar
no auge
de um quase
E OUTRAS AVENÇAS
nem todo dia
acordo
pária de mim
nem sempre
a minha dor
é vária
faz diferença
sentar-me
diante
das avenças
(aquiesce
aquele pardal
que me olha
de soslaio,
prestes ao voo)
*
DA ESCRITORA
Já a metade
da minha vida
passei nesta lida
com letras,
papel, projeto,
poemas, falida.
Já a metade,
conforme contei
outro dia.
E prestes já
a contar
mais da metade,
em breve,
estimando,
quem sabe,
que, ao cabo,
pareça
ter sido
leve.
*
VINCO
me abate
e desfigura
um desânimo
aterrador
a célere
visão
como se
o chão
pudesse
me
engolir
e se
me debato
viro-me ao
avesso
em meio
a tanta
carne &
sentimento
vejo
mais um
vinco
nada que
o tempo
não
possa
esmaecer
*