Graça Graúna e a visibilización da cultura indíxena no Brasil.

Porxmeyre

07/03/2021

GRAÇA GRAÚNA: SEÑORA DA POESÍA INDÍXENA II

Faise preciso sinalar que esta poesía indíxena, tanto a semana pasada tratada como tamén hoxe, é en realidade poesía de muller (hoxe Graça Graúna) de etnia indíxena mais residente en cidade (polo que sei calcúlase que algo máis de 300.0000 indíxenas viven en cidades) e que é poesía de muller culta (concretamente Graça Graúna é formada en Letras) e, polo tanto, estamos diante dunha poesía que responde aos esquemas da poesía occidental sobre todo formais; se ben na temática si se nota a ascendencia indíxena, nesta de Graça Graúna poderran vostedes ler, por sinal, haikais orientalistas na forma. Son tentativas, tanto a da semana pasada como esta, de engrandecer a tradición cultural indíxena desde a perspectiva de voces poéticas coñecedoras dos esquemas poéticos cultos (moi eurocentrados, ou  occidentalmente centrados, aínda tendo en conta as tentativas orientalistas de Graça Graúna que vostedes poderán ler) que desta maneira loitan por engrandecer unha tradición cultural (a indíxena) que non ten porque contar coa poesía entre as súas manifestacións culturais (polo menos non da maneira en que se entende a poesía culta en occidente) pois é, polo que sabemos, precisamente o conto a estratexia narrativa que máis se distingue entre @s indíxenas.

Esta poesía indíxena é unha poesía de resistencia, pois os pobos indíxenas están a ser masacrados, polas potencias conquistadoras cando a descuberta e agora polo neocolonialismo autóctono de raigame europea, tan devastador e criminoso como calquera outro. É poesía de resistencia que loita  pola visibilización das etnias indíxenas nun panorama social e cultural que as oculta sistemáticamente, moito máis desde o bolsonarismo, ardente impulsor da súa desaparición.

Se a poesía de muller xa é marxinada por ser poesía de muller, e a poesía de muller negra moito máis, pois imaxinen o que se incrementará isto se se estamos a falar de muller negra e indíxena. Conscientes disto, desde este lado do Atlántico, prestamos as nosas páxinas como forma de divulgar a voz índíxena, de visibilizala, unha voz que será unha desgraza enorme cando despareza ( e entón demasiado tarde para rectificar), e facémolo porque é preciso e facémolo porque é xusto e facémolo con moito orgullo porque entre otras cousas tamén constribuímos ao desterramento de tópicos (“brutos”, “incultos”…) que pairan sobre @s indíxenas. Sobre os indíxenas e sobre nós, @s galeg@s..

Solidariedade entre irmáns oprimidos.

Graça Graúna é o nome indíxena de Maria das Graças Ferreira, escritora, crítica literaria, profesora de literatura. Orixinaria de São José de Campestre (Rio Grande do Norte), municipio rural duns 13 mil habitantes é é profesora adxunta da Universidade de Pernambuco. Entre os seus títulos poéticos atopamos: en 1999, Canto Mestizo (Ed. Blocos/RJ); en 2001 –Tessituras da Terra ,(Edições M.E); en 2007,Tear da Palavra,(Ed. M.E/BH); en 2014,  Flor da mata. Haikais. (Ed. Peninha/BH. A súa etnia é a potiguara Para saber máis sobre a súa obra, activismo e fortuna crítica, déixoo coas palabras sempre imprscindíbeis de Elfi Kurten.

Evidentemente, a súa obra é anterior á de Eliane Potiguara, tratada a semana pasada,e, polo que sei debe entenderse como unha das pioneiras na expresión poética indíxena. Sobre as poéticas indíxenas remítoos a este artigo, breve mais clarificador, de Pedro Cesarino

Como sempre déixolles ligazón ao seu blog Tecido de vozes onde poderán atopar moita acyualidade sobre os pobos e culturas indíxenas.Unha bitácora imprescindíbel.

(En Dhnet.org)

…………………

(Na AcroBata)

Canção Peregrina

I
Eu canto a dor
desde o exílio
tecendo um colar
muitas histórias
e diferentes etnias

II
Em cada parto
e canção de partida,
à Mãe Terra peço refúgio
ao Irmão Sol, mais energia
e à Irmã Lua peço licença poética
para esquentar tambores
e tecer um colar
de muitas histórias
e diferentes etnias.

III
As pedras do meu colar
são história e memória
são fluxos de espírito
de montanhas e riachos
de lagos e cordilheiras
de irmãos e irmãs
nos desertos da cidade
ou no seio da floresta.

IV
São as contas do meu colar
e as cores dos meus guias:
amarela
vermelha
branco
negro
de Norte a Sul
de Leste a Oeste
de Ameríndia
ou de LatinoAmérica
povos excluídos.

V
Eu tenho um colar
de muitas histórias
e diferentes etnias.
Se não me reconhecem, paciência.
Haveremos de continuar gritando
a angústia acumulada
há mais de 500 anos.

VI
E se nos largarem ao vento?
Eu não temerei,
não temeremos,
pois antes do exílio
nosso irmão Vento
conduz nossas asas
ao círculo sagrado
onde o amálgama do saber
de velhos e crianças
faz eco nos sonhos
dos excluídos.

VII
Eu tenho um colar
de muitas histórias
e diferentes etnias.


Colheita

Num pedaço de terra
encabulada, mambembe
o caminho de volta
a colheita, o ritmo
o rio, a semente

Planta-se o inhame
e nove meses esperar
o parto da terra.
Planta-se o caldo
e docemente esperar
a cana da terra

Palavra: eis minha safra
de mão em mão
de boca em boca
um porção Campestre
Potiguara ser.


Geografia do Poema

O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
Um corpo virou cinza,
Um sonho foi desfeito
E mil povos clamaram:
_ Não à violência!
A terra está sentida
de tanto sofrimento!

[…]

O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.

[…]

Pelas ruas
a tristeza dos tempos,
a impossibilidade do abraço.
Nos corredores da morte
meninos e meninas
nos becos da fome
consome a miséria: matéria prima
de nossa sobrevivência.

[…]

Nos quarteirões,
dobrando a esquina
homens e mulheres
idôneos, cansados
lastimam o destino
de esmolar o direito
nos tempos madrugados.

Se o medo se espalha
virá o silêncio
o espectro das horas
e as cores sombrias.
Se o medo se espalha
Amargo será sempre o poema

O dia deu em chuvoso
na geografia do poema:
um corpo virou cinzas,
um sonho foi desfeito.
A terra está sentida
de tanto sofrimento.


……………………………….

(Na Cidadeverde)

RETRATOS 

Saúdo as minhas irmãs 

de suor papel e tinta 

fiandeiras 

guardiãs,

 ao tecer o embalo 

da rede rubra ou lilás 

no mar da palavra 

escrita voraz.

 Saúdo as minhas irmãs 

de suor papel e tinta 

fiandeiras 

tecelãs 

retratos do que sonhamos 

retratos do que plantamos

 no tempo em que nossa 

voz era só silêncio.

OFERTÓRIO 

Comei e bebei! 

estas palavras são meu corpo 

nem alegre, nem triste 

só um corpo 

Comei e bebei! 

Nestas palavras minh’alma 

talvez a mais próxima 

de um revoar de sonhos 

Mas se este ofertório

 te parece pouco, 

ide ao verso-reverso 

onde o nosso sudário 

continua exposto

CARTOGRAFIA DO IMAGINÁRIO 

               (para Ivan Maia, Leila Miccolis, Márcia Sanches e  Urha) 

…do meio da noite 

ao meio do dia 

o espanto do universo 

retalhado em fatias 

alimenta o poema 

e a vertiginosa fome de vencer 

o intrincado mundo das palavras 

da noite ao meio dia 

(a)talhos e fatias 

dos muitos caminhos do mundo 

alimentam 

a cartografia do imaginário 

do corpoema 

………………………………………….

(No Recanto das letras)

Luz e sombra

Elegia do amor maduro

Escritos

Cantares

“História e memoria”

“Poética da autonomía”  https://www.recantodasletras.com.br/poesias-do-social/2532550

…………………….

(Selecta de Elfi Kurten)

Abismos
toda lua é engano
todo anjo é cruel
no abismo de eternidade
e ânsia
do corpoema
 
– Graça Graúna, em “Saciedade dos poetas vivos digital”. vol. 1. (antologia)..[seleção e organização Leila Míccolis]. Blocos online, 2006.


Canción peregrina
I
Yo canto el dolor
desde el exilio
tejendo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias
 

II
Em cada parto
y canción de partida,
a la Madre-Tierra pido refugio
al Hermano-Sol más energia
y a la Luna-Hermana
pido permiso (poético)
a fin de calentar tambores
y tecer um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.


III
Las piedras de mi collar
son historia y memória
del flujo del espírito
de montañas y riachos
de lagos y cordilleras
de hermanos y hermanas
en los desiertos de la ciudad
o en el seno de las florestas.
 

IV
Son las piedras de mi collar
y los colores de mis guias:
amarillo
rojo
branco
y negro
de Norte a Sur
de Este a Oeste
de Ameríndia o Latinoamérica
povos excluidos.
 

V
Yo tengo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
Se no lo reconocem, paciência.
Nosotros habemos de continuar
gritando
la angustia acumulada
hace más de 500 años.
 

VI
Y se nos largaren al viento?
Yo no temeré,
nosotros no temeremos.
Si! Antes del exílio
nuestro Hermano-Viento
conduce nuestras alas
al sagrado circulo
donde el amalgama del saber
de viejos y niños
hace eco en los suenos
de los excluidos.


VII
Yo tengo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
 
– Graça Graúna, em “Tear da palavra”. Belo Horizonte MG: M.E Edições Alternativas, coleção ME 18, 2007.


Canto mestizo
Donde hay una voluntad
hay un camino de espera.
Apesar de las fronteras
las carceles se quebrantan.
Mira! En mi tierra mestiza
un pájaro de América canta!

Canta la Libertad, hermano!
Canta la Libertad!

Canta la fuerza del pueblo
del niño solo en la calle
del campesino y el obrero
hermanos de la Verdad.
La Libertad incendia
tu voz cruzando el aire.

Canta la Libertad, hermano!
Canta la Libertad!

– Graça Graúna, em “Canto mestizo”. Maricá RJ: Editora Blocos, 1999. 


Caos climático
É temerário descartar
a memória das Águas
o grito da Terra
o chamado do Fogo
o clamor do Ar.

As folhas secas rangem sob os nossos pés.
Na ressonância o elo da nossa dor
em meio ao caos
a pavorosa imagem
de que somos capazes de expor
a nossa ganância
até não mais ouvir
nem mais chorar
nem meditar,
nem cantar…
só ganância, mais nada.

É temerário descartar
a memória das Águas
o grito da Terra
o chamado do Fogo
o clamor do Ar. 
 
– Graça Graúna (outubro 2009), in: LIMA, Tarsila de Andrade Ribeiro. Entrevista com Graça Graúna(…). Palimpsesto, nº 20, Ano 14 – 2015, p. 146.


Dores d’África
Eh, meu pai!
Em vez de prantos
é melhor que cantemos.

Eh, meu pai!
É melhor que cantemos
a dor contínua
a solidária luta
de poetas-bantos
contra a tirania

– Graça Graúna, em “Canto mestizo”. Maricá RJ: Blocos, 1999, p. 49.


Escritos
…e se me ponho a juntar
escritos de gozos
raízes de abraços

bem sei: não é apenas saudade
ou mesmo lembranças
a dor que me cerca

é algo mais forte
que o tempo da distância
não alivia, nem basta.

– Graça Graúna, em “Tessituras da Terra”. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001. 


Estações
O terraço da casa da velha senhora
parecia uma estação de primavera.
Faz tanto tempo…!

Cadeiras de balanço
barcos de papel, velocípedes
jarros de cacto e jasmins
encantos aos pares:
quantos sóis, quantas luas
e um punhado de estrelas.
Coisas da vida
que iluminam a alma
para manter o equilíbrio do planeta.

“…tempo de verão fazia poeira…”
os sonhos se multiplicaram
e o flamboiã ganhou tamanho
igual ao pé de feijão
(quase tocando o céu)
em meio a uma infinda
ciranda de fantasias.

Brotava uma luz
no rosto da velha senhora.
Agora,
as folhas de outono
cobrem o terraço de silêncio.

– Graça Graúna.’Estações’. em “Terra latina: antologia internacional”. (org.). Zeni Brasil. Curitiba/PR: Editora Abrali, 2005, p.124.


Geografia do poemaI
O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
Um corpo virou cinzas
um sonho foi desfeito
e mil povos proclamaram:
– Não à violência!
A terra está sentida
de tanto sofrimento.
 
 
II
Na geografia do poema voam balas
passam na TV os seres nus
o pátio aglomerado
o chão vermelho
onde a regra do jogo
da velha é sentença
marcada na réstia
do sol quadrado.
 

III
Pelas ruas
a tristeza dos tempos
a impossibilidade do abraço.
Crianças
nos corredores da morte
nos becos da fome
consomem a miséria
matéria prima da sua sobrevivência.
 

IV
Nos quarteirões
dobrando a esquina
homens e mulheres
idôneos, cansados
a lastimar o destino
de esmolar o direito
dos tempos madrugados.


V
Se o medo se espalha
virá o silêncio
o espectro das horas
e as cores sombrias.
Se o medo se espalha
amargo será sempre o poema
 

VI
O dia deu em chuvoso
na geografia do poema
um sonho foi desfeito
mil povos pratearam.
A terra está sentida de tanto sofrimento.
Mas…
 

VII
Haverá manhã
e o sol cobrirá
com os seus raios de luz
a rosa dos ventos
 
– Graça Graúna, em “Tessituras da Terra”. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p. 46-49.


Macunaima
Do fundo da mata virgem
ele ri mui gostosamente alto
e diz: – ai que preguiça!

Coisa de sarapantar
os sons e os sentidos
espalham-se
um
três
trezentos
amarelos
brancos
pretos retintos
pícaros/ícaros
Brasil
brazis
crias de um homem submerso

– Graça Graúna, em “Canto mestizo”. Maricá RJ: Editora Blocos, 1999. 


marGARIdas
Nem todas as flores
vivem gloriosamente em flor.
Uma delas sobrevive
catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
do playground à lixeira

marGARIda-amarela
marGARIda-do-campo
marGARIda-sem-terra
marGARIda-rasteira
marGARIda-sem-teto
marGARIda-menor

pela terra mais garrida
de maio a maio arrastando
o seu carrinho de GARI.

Catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
vai e vem uma marGARIda
brotar no seu jardim

– Graça Graúna, em “Tessituras da terra”. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001.


Memórias das cinzas
anjos caídos sob os viadutos
segredam sonhos
em meio ao alumbramento
de um terça-feira gorda
a legião se mistura
para renascer das cinzas
em qualquer dia de sol
ou quando a chuva vier
 
– Graça Graúna, em “Poesia para mudar o mundo”. (org.). Leila Míccolis, Blocos online, 2013.


Quase haicais
Tempo de estio:
sobre a carcaça do boi
um cão faminto

***
Da serra ao mar
os ancestrais dialogam
ao som do vento

– Graça Graúna, em “Poesia para mudar o mundo”. (org.). Leila Míccolis, Blocos online, 2013.


Quase-haikai I 
1.
Braços para o infinito
o espantalho subverte
a ferocidade do mundo


2.
Entre o sono e a vigília
o canto da cigarra
inunda o sertão


3.
Noctívaga dor-em-dor
pouso na árvore do mundo
clandestina


4.
Porque és pedra
o que dirá a poesia
sem a tua presença?

5.
Dias de sol
distendo as velhas asas
num hai kai latino
– Graça Graúna. ‘Hai kais’. em “Canto mestizo”. 1ª parte. Maricá/RJ: Blocos, 1999, p. 17-21.


Resistência
Ouvi do meu pai que a minha avó benzia 
e o meu avô dançava 
o bambelô na praia, e batia palmas
com as mãos encovadas
ao coco improvisado,
ritmando as paixões 
na alma da gente.             
Ouvi do meu pai que o meu avô cantava 
as noites de lua, e contava histórias
de alegrar a gente e as três Marias.

Meu avô contava:
a nossa África será sempre uma menina.
Meu pai dizia:
ô lapa de caboclo é esse Brasil, menino!
E coro entoava:
_ dançamos a dor
tecemos o encanto
de índios e negros
da nossa gente
 
– Graça Graúna,poema “Resistência”. in: RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Marcio (Org.) Cadernos Negros, nº 29. São Paulo: Quilombhoje, 2006, p. 120.


Reverso do cárcere
Na alta madrugada
o coro entoava
estamos todos aqui
no ofício de ser
criador
criatura
traçando, tecendo
das circunstâncias
vertentes.
Assim, torno a ver
no reverso do cárcere
o lado negro e cru
do ofício de escrever

– Graça Graúna. em “Tessituras da terra”. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p.36.

 
Tessituras
Ser todo coração
enquanto houver poesia:
essa ponte entre mundos apartados

– Graça Graúna. em “Tessituras da terra”. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p.31.


Uns cavaleiros
No deserto das cidades
uns cavaleiros sonham
mas sonham só
seduzidos pela mais valia.

De resto,
lugar nenhum no coração
para encantar Dulcinéias.

Onde o herói contra os moinhos?

– Graça Graúna, em “Canto mestizo”. Maricá RJ: Editora Blocos, 1999, p. 45.

……………………………………….

(En Poesia na alma)

Sempre-viva

Lá,

no esconderijo

vivia uma certa menina

meiga

doce

Sempre-viva-Coralina

Na casa velha da ponte

igual à cabocla velha

à margem do Rio Vermelho

a menina de trança

meiga e mansa

igual à Nega Fulô

carente de alforria

Meiga, mansa

Cora Coralina

carregou dentro de si

amarga e doce poesia

tecida no esconderijo

de todas as vidas

nos becos

Sempre-viva

………………..

Reinventar

A pena desliza

sobre o papel.

As palavras voam.

……………………

Da humanidade levada pelas águas

(Em memória de Aylan Kurdi)

Viver é perigoso,

o poeta dizia.

Assim mesmo insistimos

em fazer a travessia.

Viver é perigoso,

mas seguimos

vestidos de coragem

na ânsia de encontrar

o olhar generoso

o abraço apertado
a mão amiga

que acolham os nossos sonhos…

Em meio à travessia

a humanidade

é levada pelas águas

e tudo que me fica

é uma tênue esperança

que se alastra pelo mundo

nos sonhos do pequeno anjo

de asas partidas.

Apesar das muralhas
e dos arames farpados,
o direito à Paz nos aproxima.

Viver é perigoso,

mas insistimos….

……………………..

A CAMINHO DO HAITI TEM UMA PEDRA (*)

tem uma jangada de pedra
a caminho do Haiti
a esperança se avizinha
pois navegar é preciso
ou como diz o velho Mago
uma obrigação todos temos.
E agora, que fazer?
A caminho tem uma pedra
e uma jangada se recria
pois não há mais tempo a perder
________

(*) Fiz este poema, pensando em Carlos Drummond de Andrade, autor do poema “No meio do caminho” e empreguei o termo Mago para homenagear SaraMAGO e a sua solidariedade ao povo do Haiti.

……………………………………

(En Poesia para mudar o mundo)

Memórias das cinzas

anjos caídos sob os viadutos
segredam sonhos
em meio ao alumbramento
de um terça-feira gorda
a legião se mistura
para renascer das cinzas
em qualquer dia de sol
ou quando a chuva vier

Ser potiguara

– Vamu apanhá sol?
– Vamu.

De sal a sol, multiplicar a semente
pelo caminho de volta
com Tupuna sorrindo.

Vagamundo

Carrego cicatrizes
(…e quem não as tem?)
De algumas esqueço,
enquanto outras sangram
porque feitas de punhais-palavras.
A cada (a)talho, vago pelo mundo
para driblar esse mal
chamado coração.

Quase haicais

Tempo de estio:
sobre a carcaça do boi
um cão faminto

***

Da serra ao mar
os ancestrais dialogam
ao som do vento

……………………

Porxmeyre

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