Adriana Versiani, exploradora da palabra e do amor

Porxmeyre

28/06/2020

 ADRIANA VERSIANI, DESDE A NAVALLA AO ESPLENDOR DA POESÍA

A introducción bio-bibliográfica que adoito facer nestes artigos divulgativos elaborados desde o interior da Fisterra galega, vai ser pouco convencional. Por dúas razón. A primeira é que, na rede, hai máis textos seus ca información sobre ela. E a segunda, e non menos importante, que me apetece moito escribir sobre algúns aspectos que a min, como poeta e como crítico, me atraen particularmente.

Hei de comezar diciendo que o seu primeiro libro (Física dos Beatles, 2005, colección DAZIBAO) presenta una imaxe clara de como será a súa poesía poeterior. Por exemplo, aí atopamos prosas poéticas (que nós non recolleremos na antoloxía final, coma sempre) e tamén una vontade de probar diferentes estratexias discursivas que a caracterizará por exemplo na colaboración en Diário de A (2013)., onde se aposta pola lectura gráfica. Antes xa tiña publicado tamén  o Livro de papel (2009) que, polo que eu sei trátase dunha edición de autor. Nunca é doado que @s poetas achen lugar onde manifesarse pola primeira vez, e é moi frecuente a edición de autor, tanto no Brasil como aquí. E é necesario concretar dúas cousas máis: que a edición de autor, en principio, dá meirande liberdade á autora; e que se Adriana Versiani dos Anjos chegou á poesía foi da man do seu marido (Camilo Lara, precozmente falecido e tamén poeta), ela escribía poesía desde moito antes, desde adolescente, mais foi entón cando tomou conciencia do valor dos seus poemas.

                Publica tamén Conto dos Días (2007) ou Explicaáo do Fato ( revista literaria virtual Germina Literatura, 2008, ou ) e, polo que sei  o primeiro título nunha editora convencional é Arqueología da Calçada que xunto a Farmacopeuma (plaquelle de agasallo) publica no 2018 en  2Linhas Editora. A Lámina que matou meu pai (2012), Três pedras (2014) e Chove (2017) completan a súa obra. Tamén temos noticia de O barquino pelo mar, que sería o primeiro, e Dentro pasa antes de libro de papel, que non demos ubicado temporalmente

Dito isto é hora significar que é natural de Ouro Preto (Belo Horizonte). Alí naceu en 1963 e é xeografía (tamén urbana) que será decisiva na súa obra.

Xa mencionamos a súa participación na colección DAZIBAO, engadamos agora que a palabra chinesa DAZIBAO fai referencia a un xornal mural de grandes dimensións fixado na rúa. É una plataforma de expresión cidadá propia de Revolución Cultural Chinesa. E debe ficar moi clara a constante vontade de Adriana dos Anjos para traballar coa palabra coa súa dimensión semántica, espacial e tamén sonora (pois Adriana é tamén una excelente declamadora poética). Os seus poemas teñen una dimensión sonora que apela pola lectura en voz alta.

                Adriana, que formou parte do colectivo DAZIBAO de Divinópolis, tamén foi coorganizadora da colección Poesia Orbital e do xornal Inferno. Tamén integra o consello editorial da revista literaria Ato, e é editora do xornal Dezfaces.

Mais, a nós, desta beira do Atlántico, o que máis nos impresionou é a temática amorosa. Desde sempre o amor foi tema literario. Con todo, na poesía actual non son moit@s poetas que se paran nel. Poetas de altura, non poetas afeccionad@s ou ancorad@s na expresión poética adolescente. E é un amor como una navalla. Que pode ser sublime estado interior e tamén navalla que fire, que esgaza, cando algo impide o anterior estado sublime. Polo tanto tamén é poeta de ausencias. E non renuncia, nin moito menos, á parte máis carnal, erótica ou pornográfica mesmo, pois é parte do gozo amoroso. Esa foi a nosa primeira sorpresa cando a lemos. Do resto hai que dicir que como poeta é autora que ten un especial sentimento pola palabra, pola palabra coas súas virtualidades e tamén cos seus silencios, pola palabra en todas as súas dimensión. Mesmo foi acusada de “verborreia”, mais non por abusar do uso da palabra, senón pola recorrencia temática, por non esgotar un tema e entregar outra versión súa. Precisamente iso na nosa opinión ten que ver coa palabra e a súa potencialidade semántica incompleta, que loxicamente tamén constrúe textos incompletos, plenos de poesía, mais una poesía que admite e precisa recorrencias que, todas xuntas, dean una visión máis completa do tema. De aí que teñamos a impresión, cando a lemos, de estar diante dunha poeta que sempre explora as marxes textuais. As “transalucinacións” veñen sendo experiencias neste sentido, no referente á palabra e no referente ás marxes discursivas.

Dalgunha maneira, Adriana dá a impresión de ser unha poeta entre precipicios.

E agora é tempo de deixarvos xa coa poesía desta excelente poeta, non sen antes dicir que non é formada en letras senón en nutrición:

 

Então, tomou-me pela cintura e manteve-me suspensa, por alguns segundos, na linha dos seus
olhos azuis.
Nossas pálpebras tremeram em suave sintonia e seu olhar pousou sobre os meus lábios que
formigavam.


Pela linha da cintura, ignorando o degrau da escada, posou-me suavemente no chão.

Era mais forte que eu.

A princípio enxerguei apenas um cavalheiro ajudando-me a descer, mas havia uma tensão na
ponta daqueles dedos que me sustentavam pela linha da cintura.

Tensão que subia da linha da cintura até os lábios e têmporas e olhos e que nos fazia tremer.

Tentei desvencilhar-me, mas

Era mais forte que eu.

Sucumbimos ao azul, enquanto lacrimejávamos.

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Amo-te, homem transparente
Ama um homem transparente
Amava um homem transparente
Posso vê-lo através do espelho
Pode vê-lo através do espelho
Podia vê-lo através do espelho
Teus grandes olhos enxergam-me por dentro
Seus grandes olhos a enxergam por dentro
Seus grandes olhos a enxergavam por dentro
Afagas minha alma e circulas por artérias, veias e paredes úmidas
Afaga sua alma e circula por artérias, veias e paredes úmidas
Afagava sua alma e circulava por artérias, veias e paredes úmidas
Nas horas vagas, no ócio, enquanto te afogas, vigio-te
Nas horas vagas, no ócio, enquanto ele se afoga, ela o vigia
Nas horas vagas, no ócio, enquanto ele se afogava, ela o vigiava

Amo-te, homem incandescente
Ama um homem incandescente
Amava um homem incandescente
Que, à noite, com tuas mãos fortes, vens me visitar
Que à noite, com suas mãos fortes a vem visitar
Que à noite, com suas mãos fortes a vinha visitar
És para mim um segredo que não ouço
É para ela um segredo que não ouve
Foi para ela um segredo que não ouvia
Sou para ti segredo que não queres escutar
É para ele segredo que não quer escutar
Foi para ele segredo que não queria escutar
Vasculhas meus cantos escuros, mas não me vês
Vasculha seus cantos escuros, mas não consegue vê-la
Vasculhava seus cantos escuros, mas não conseguia vê-la
Amo-te, homem invisível
Ama um homem invisível
Amava um homem invisível
que me ensinaste   a escuridão de amar
que me ensinaste     a escuridão de amar
que me ensinaste                    a escuridão de amar

Odeio-te, homem transparente
Odeia um homem transparente
Odiava um homem transparente
Posso vê-lo através do espelho
Pode vê-lo através do espelho
Podia vê-lo através do espelho
Teus grandes olhos enxergam-me por dentro
Seus grandes olhos a enxergam por dentro
Seus grandes olhos a enxergavam por dentro
Afagas minha alma e circulas por artérias, veias e paredes úmidas
Afaga sua alma e circula por artérias, veias e paredes úmidas
Afagava sua alma e circulava por artérias, veias e paredes úmidas
Nas horas vagas, no ócio, enquanto te afogas, vigio-te
Nas horas vagas, no ócio, enquanto ele se afoga, ela o vigia
Nas horas vagas, no ócio, enquanto ele se afogava, ela o vigiava

Odeio-te, homem incandescente
Odeia um homem incandescente
Odiava um homem incandescente
Que, à noite, com tuas mãos fortes, vens me visitar
Que à noite, com suas mãos fortes a vem visitar
Que à noite, com suas mãos fortes a vinha visitar
És para mim um segredo que não ouço
É para ela um segredo que não ouve
Foi para ela um segredo que não ouvia
Sou para ti segredo que não queres escutar
É para ele segredo que não quer escutar
Foi para ele segredo que não queria escutar
Vasculhas meus cantos escuros, mas não me vês
Vasculha seus cantos escuros, mas não consegue vê-la
Vasculhava seus cantos escuros, mas não conseguia vê-la
Odeio-te, homem invisível
Odeia um homem invisível
Odiava um homem invisível
que me ensinaste   a escuridão de amar
que me ensinaste     a escuridão de amar
que me ensinaste                    a escuridão de amar

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Sua letra tocaia no beco escuro.
Caligrafia armada mistura todas as palavras.

No início, havia um jeito certo de fazer a emulsão delas e quando aspirava eram vôos leves, e
quando pousava havia chão. 

Então a sua letra, caligrafia armada, abriu o livro ancestral e descobriu a mistura mágica.

Buscou-me a escuridão do espaço e extirpou-me toda razão.

Como nas bruxas, primeiro tomou-me a pélvis para depois entorpecer o resto.
Você a roubou delas e sua letra ficou condenada ao eterno beco da palavra.

Escreva-me.

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Diário esquecido na estante,
tudo transtornado.

Não preciso de nada.

Penso você enquanto olhos.

Presença no silêncio sagrado.

Prevejo perigo no meio da rua.

Num reflexo de busca, como um bebê,
inclino-me e sugo.

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abe aquele pontinho?
Esse de pelos grisalhos encaracolados?
Ali, periférico, dentro da circunferência?

Primeiro foi caramujo e, com o tempo, pontinho.
Quase invisível canta baixinho, em meio ao turbilhão da circunferência.

Dói tudo quando se desloca, mas ninguém sabe o que é.

Sabe, era caramujo que virou pontinho e que hoje vive na periferia da circunferência.

Vê?

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porque não uso nem nunca usei a retórica da pedra,
planta, água, porque não, nunca para esse assunto:

molhe-me,
leia-me.

porque não minto nem nunca menti quando se trata de pedra,
planta, água, porque não, nunca para esse assunto:

amo-te,
creia-me

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9.10

Pérolas     Vermelhas:


Minha língua na sua palavra


Si     gni      fi      can      do 

Compulsão

Mastigou duas ou três folhinhas logo que acordou e escreveu:

Escreveu as trincas das xícaras.

Escreveu as tábuas corridas estufadas pelo tempo (tanta chuva, tanto sol).

Escreveu as histórias que lhe contaram os bons fantasmas, para sempre

bebendo vinho na varanda.

Com eles anotou o movimento das constelações e desejou a dor profunda

que o reconduziria ao amor perdido no século retrasado.

Escreveu esse amor, a carne inexistente, a dureza dos seus ossos.

No quintal, escreveu o sabor doce do coração do cordeiro. Escreveu isso

com o pedaço de carvão que lhe entregaram os piratas ingleses.

Rolou em êxtase pelo jardim de maçãs, desprovido de vestes, sentindo o

hálito do vento, massageando-se nas sílabas.

Escreveu isso na alma de vidro com a ponta do diamante.

Fez um círculo de fogo na clareira daquele bosque.

Escreveu a fome que viu na cidade secreta e o beija-flor agonizando no

vaso do jardim.

Pobre beija-flor!

Acordou com um gosto de menta na boca e escreveu.

Tudo mentira.

Código

Perdoe-me por não saber amar em outra língua.
estes versos, que me atravessam como uma rua acidentada, não os explicito.

perdoe-me por não saber cantar em outra língua.
estes versos, que me iluminam como as pedras que flatam na rua
acidentada, não os traduzo.

perdoe-me por não saber beijar em outra língua.

estes versos que se soltam e me encharcam.

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hoje sonhei ser segredo,
seu segredo,
algo distante de mim.
aquilo que mora no pulmão do maestro,
enquanto pausa, enquanto lembra, enquanto espera o som.
sonhei ser antes da pintura da nave,
antes da tinta ou das mãos,
antes da ideia.
sonhei ser segredo,
seu segredo.

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ASSALTO

Sopro, arranca essa medalha do meu peito.

Seixo, fruto da extração desse som oco.

Pedra, crava nessa história o meu conceito.

Dor, aumenta essa memória do que é pouco.

Solto.

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FAIXA DE GAZA

O terror vinha da linha do trem

Fui tomado por grande melancolia

Quando diante daquela Teresina

E de seu Serial Killer

Não sei se foi música baiana, ou poema na camisa

Não sei se Kombi, rua, ou cúpula de igreja

Não sei se perfume talvez, ou talvez aquela brisa

O terror caminha

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https://www.ciclope.com.br/wp-content/uploads/2013/11/dezfaces4.pdf

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darkness

Conheço a noite, pesadelo povoado pela Besta, terra onde ela aplica seus métodos.

Nós, de suas unhas compridas e sujas, vigiamos.

Conheço o pesadelo, noite povoada pela Besta, terra onde ela aplica seus métodos.

Nós , de suas unhas compridas e sujas, vigiamos.

Universo povoado pelas sombras,

conheço a escuridão de suas unhas.

 

réquiem para guiomar

Guiomar,

No dia da sua morte, cortaram-lhe as tranças.

Júlia embrulhou-as no papel de seda.

Porque é tradição jogar dentes no telhado, amarrar com fitas pequenas mechas de cabelo, carregar corpos pelas ruas em procissão, acender velas, lançar flores nas covas, chorar, entoar cânticos, levar as crianças para que não se esqueçam.

O ritual da queimação, dos corações fragilizados, dos soluços.

Guiomar,

No dia da sua morte foi assim:

Júlia agarrou-se à caixa e chorou sobre as cinzas.

 

no mundo das pequenas coisas

as casas de Minas têm interior

não se dá por elas o que vai por dentro

saída dos fundos opção que se estende até os becos e pedras dos muros

um dia interrompida pelo diabo aceso que arrasto

larguei o chicote na mão do inimigo

cachaça procissão, luto

porque não fui visitá-lo no seu leito de morte amigo

agora agonizo

entrei no mundo das pequenas coisas

afeto não se explica nada foi vivido tudo anda escondido

alguns perguntam o que sabe a criatura do calabouço

sentenças gavetas onde estão quardados  os indícios véus missais botões bilhetes e suas

transcrições

acostumei-me ao ritmo é este o veredicto:

essa não presta queimem seus escritos

E A ALMA QUE LHE DEI?: — ESQUEÇA, INSISTO.

ando triste às vezes choro

sei fazer samba do Sinistro

vivo pelas pontes praças precipicios

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índia

começo assim, como quem passa o dedo na seda:

cada dedo um fio, um bicho da seda

cada unha vermelha, um pedaço da Índia

continuo assim, como quem passa a língua na seda:

cada pedaço da língua, um gosto de seda

cada sabor doce, um cravo da Índia

termino assim, como quem passa a vulva na seda:

cada toque na vulva, uma mancha na seda

cada suspiro de gozo, a solidão da Índia.

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Amigo

Te quero como aquelas que desenham na pele com a ponta da faca sentadas nos bancos do antigo mercado e bebem e trepam atrás do balcão e tremem e têm convulsões e não sentem nada enquanto olham por cima dos seus ombros.

Te quero com a língua afiada dessas que nasceram no outro século e se despiram e ofereceram seus peitos vazios de leite, enterraram fetos em terrenos baldios, castraram filhos e não tiveram vergonha de se matar.

Te quero colado à minha coxa como estão as duas que atearam fogo ao antigo sobrado e arrancaram os dormentes da estrada de ferro e se beijaram deitadas nos trilhos e queimaram cartas e saias e eliminaram para sempre todas as possibilidades.

Amigo me afogue, me salve, cubra meu corpo com as pedras do fundo até que eu não respire, até que eu não pronuncie palavra, até que meus olhos não vejam, até que eu não te queira mais.

(Pode parecer prosa poética, mais é simplemente porque os versos son tan grandes que non caben na marxe dispoñíbel)

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dolores

 

Risque

Meu nome do seu inferno

Desse universo moderno

Da sua fala vazia.

[de uma música de Ary Barroso]

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super-herói

 

Meu super-herói de brinquedo tinha capa,

asas e lutava contra moinhos de medo.

Uns anjos giravam no vento e diziam:

— Fica menino, fica! Ainda é cedo.

Meu super-herói de brinquedo

tinha uma luz que brilhava dentro.

Só os anjos sabiam seu segredo.

Para Matheus

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michêmeretriz

 

No sinal Ele pegou

Ela mordeu com força

Ele cuspiu, falou à beça

Ela bateu no vidro

Ele torceu o braço,

Ela quebrou a unha,

Ele abriu a porta, jogou pra fora,

Ela chorou

e

Ele caiu bêbado na Via Expressa.

No sinal Ela pegou

Ele bateu no vidro

Ela falou, cuspiu à beça

Ele torceu com força

Ela quebrou a cara

Ele abriu a porta, jogou pra fora

Ela rolou no beco

Ele mordeu

e

Ela caiu bêbada na Via Expressa

Ela:

Cinderela da calçada.

Ele:

Poeta da sarjeta.

ElaNeleEleNela.

Semolhosempernasemletra

No guardanapo do Malleta

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canteiro de rosas

 

Ele tem o controle.

No alpendre, Vera chora ao vê-lo cimentar o canteiro de rosas: é o cheiro da infância que enterra.

(Dizia-lhe que não havia lugar para guardar as coisas; desejava abrir um negócio no galpão; os meninos já criados, era justo que descansasse um pouco; ficar mais tempo em casa cuidando do viveiro, dela que envelhecia e sentia dores; comprar linhas para que bordasse com capricho os olhos das bonecas).

Ele tem  a pá.

Vera sente que, assim como a música de Mozart, a morte faz parte.

No alpendre, seus olhos são a memória das rosas.

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Janelas vedadas com cera de mil abelhas

para que o sol não desperte a memória da infância.

Muro alto,

floresta negra dos pesadelos.

Uma gata no cio me atormenta.

Atravesso a rua,

chove na minha aldeia.

castanha

 

X

Começo a caminhar com as mulheres que se alimentam de castanhas.

Suas casas, vidraças quebradas;

no fundo, o leito seco de um córrego

; gatos enterrados no jardim.

Chamam-nas Noivas do Cordeiro e têm a pele branca e nunca mais verão a neve ou as folhas girando com o vento.

Seus homens se foram e seus filhos estão mortos.

Caminho abraçada às irmãs e planto coisas e não colho flores e jamais olharei novamente para a lua.

IX

Dia Santo.

Escorpiões atormentados guardam a Palavra envolta em musselina.

As noivas, em entrega íntima, prosternam-se diante do que em si é sagrado.

Relevo árido.

Suas pegadas são para sempre, não há vento que as consuma.

VIII

Encontra-se agachada.

Abelhas zunem e sente dores nas terminações nervosas.

Sozinha.

Perdida.

Esse é o sinal para que uma legião de vermes invada a pata do cordeiro.

VII

Agora matam seis cachorros.

Matam para beber e para comer.

Matam porque sentem sede e fome.

Usam o couro para fazer sapatos.

Fazem sapatos porque caminham.

Por esses motivos, matam.

VI

Chove e não me lembro que estou molhada.

Toda mãe é capaz do ódio.

Quando criança, juntei gravetos, mutilei insetos.

A areia é meu abrigo e ninguém me acompanha.

Ele apontou para mim e disse:

— Mulher, estás grávida, respeites o silêncio das coisas.

V

São noivas e cobrem o corpo com o barro da margem.

São virgens, água é espelho, se unem ao rio.

IV

Dia lindo!

Não ouço mais o som que vem do céu.

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COMPULSÃO

Mastigou duas ou três folhinhas logo que acordou e escreveu:

Escreveu as trincas das xícaras.

Escreveu as tábuas corridas estufadas pelo tempo (tanta chuva, tanto sol).

Escreveu as ardínnt que lhe contaram os bons fantasmas, para sempre

bebendo ard na varanda.

Com eles anotou o ardínnto das constelações e desejou a dor profunda

que o reconduziria ao amor perdido no século retrasado.

Escreveu ar amor, a carne inexistente, a dureza dos seus ossos.

No quintal, escreveu o sabor doce do coração do cordeiro. Escreveu isso

com o pedaço de carvão que lhe entregaram os piratas ingleses.

Rolou em êxtase pelo ardín de maçãs, desprovido de vestes,

sentindo ohálito do vento,

massageando-se nas sílabas.

Escreveu isso na alma de vidro com a ponta do diamante.

Fez um círculo de fogo na clareira daquele bosque.

Escreveu a fome que ardín cidade secreta e o beija-flor agonizando no vaso do ardín.

Pobre beija-flor!

Acordou com um gosto de menta na boca e escreveu.

Tudo mentira.

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APRENDIZADO OU A VIAGEM AO CENTRO DA TERRA


[Transalucinação de trechos da prosa de Alejandra Pizarnik]

A. pegou o pote onde estava escrito:

“Beba-me e verás coisas cujo nome não sonha o silêncio”.

A linguagem é um vácuo onde nenhum objeto parece ter sido tocado por mãos humanas.

Falo com a voz atrás da voz e com os mágicos sons da língua encantada.

Embriaga-me a luz que transforma minhas palavras em um esplêndido castelo de papel.

Permito-me visões e figuras pressentidas segundo os temores e os desejos do momento.

Sobrevoa-me a morte. Busco a saída.

Volto a mim e vejo uma dor que não acaba.

Luz estranha a todos nós. Em mim, tudo se diz com sua sombra.

Azul é meu nome.

Sou capaz de morrer por uma palavra mal pronunciada.

Os sofrimentos me dispensam de dar explicações.

Já não significa para mim a língua que herdei dos estrangeiros.

Sei bem que minha ferida não deixará de coincidir com a de alguma “supliciada”, que um dia me lerá com fervor por eu ter deixado de dizer que não tinha nada a dizer.

Eu falo a partir de mim.

Para sempre em meu ombro direito dois êxtases poéticos.

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Na Germina: máis textos seus.

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As transalucinacións

SEGREDA-ME

Transalucinação uma fala de Yousef Komunyakaa

“ Você falando em outra língua enquanto me sufoca a fumaça do incenso e o cachecol de tricot.

Os dois são brancos, mas você, Você é preto.”

Eu sinto o que você precisa

meus olhos miram os seus

você ouve meu coração e

penso que ninguém me entende

Imagino um jarro de vidro e as flores

na água preenchendo o jarro,

transvestindo o vidro, imagino

Lanço flores sobre todas as pessoas

Exceto sobre as que amo

Flores são armas desafiando o ar

Sei os nomes dos que virão

Danço entre seus pés e os dedos das mãos

Entre os lábios, eu danço

Muitas vezes sigo calado na névoa das grandes cidades

Muitas vezes sigo colado aos canos de descarga dos automóveis

nas grandes cidades

Eu quero morrer como os passarinhos

Eu quero dormir junto à minha mãe em seu ninho

No mundo há mil casas

Suponho que cães escavam as paredes e borboletas encarnam suas asas

No mar, a garota nada

No nada a garota má revela-me seus segredos.

 

NOITE DE SOMBRAS

Transalucinação a partir de um texto de Carl Jung e photo de Nicolas Huges

Conheço a noite, pesadelo povoado pela Besta, terra onde ela aplica seus métodos.

Nós , de suas unhas compridas e sujas, vigiamos.

Conheço o pesadelo, noite povoada pela Besta, terra onde ela aplica seus métodos.

Nós , de suas unhas compridas e sujas, vigiamos.

Universo povoado pelas sombras,

conheço a escuridão de suas unhas.

Transalucinação sobre poema de Josely Vianna Baptista

 

RIO

A água e a dimensão do tempo.

No princípio a explosão do verbo ilumina o céu

Arraias mutantes invadem o barco( anjos flutuam

na nave central);na hora da expiração chovem

rochas em brasa nos  pulmões do caos.

As papilas gustativas desconhecem os limites da língua.

Um universo irradia o outro.

Anatomia do horizonte, janelas abertas

 

CISMA

O menino sufoca enrolado ao cortinado

móbiles de nuvens assombram seus olhos no convés;

tenta alcançar os fios de prata que fazem gelar seus dedos.

escapa-lhe o ar,

bóia à deriva no mar deserto onde almas líquidas

resplandecem quando tocadas pelo sol.

No meio do rio, no rio nenhum, o limite do sonho – sufoca

Nuvem de água, mar deserto, o limite do rio por um fio

 

RÉSTIA

Velas içadas. Quem navega o vento, o remo, o mar?

 o sol beija o madeirame da proa durante o sono das partículas

de pó que dançam inconscientes nos restos de luz

o silêncio e o balanço das águas move

 os objetos sobre a cômoda

olhos abertos secam com o sopro de ar que invade a câmara.

O fio de ouro pende um anjo do teto

A memória do espelho vela o corpo sobre o berço.

 

VELUDO

Cruz de cobre no colo do útero,

placenta enterrada na areia do deserto.

Sangue vivo escorre entre as pernas

e encharca as tábuas do chão.

Cacto, flor de espinho, brônquios abertos,

oxigenação.

Sete anjos nus ,sobre cavalos, respiram pela boca

Não há gravidade no limbo.

Caderno de Desenho


Transalucinação de uma nota e de um desenho de Ana C.


Represento a revolução nestes traços incertos
que insistem em matar três figuras.
Asas se movem e um baseado queima
ao som de Corcovado.

 

AS COISAS

Transalucinação sobre texto de Mark Strand

Sinto medo,

me abstenho

do medo.

Essa é a história:

para sempre

eu sou

a falta.

Quando eu ando,

uma parte do ar

se dissipa.

Eu movo o que

no espaço existe

enquanto  é.

Nós somos

a razão do movimento.

Eu mudo as coisas.

As coisas mudam de lugar.

 

BONS AMIGOS

Transalucinação de uma letra de Amy Winehouse

Eu não posso mais esperar por você

amo quem me odeia e canto

quando preciso voar

Ainda somos bons amigos,certo?

Você pressente o risco

Eu me desmancho no ar

Agora você quer um aero plano

enquanto viajo na noite

Continuaremos bons amigos, certo?

Você é Stephanie e eu Paulette

Você conhece todas as minhas caras

E é fácil fumar um, esquecer

Nada acontece entre mim e você


Nick estava lúcido quando disse:

eu não posso mais, eu não quero mais saber.

Não sei o que você tem por dentro

Como você se sente quando eu transbordo

Mas você é meu melhor amigo, certo?

Eu não gosto do modo como você diz meu nome

Você está sempre olhando para outro lugar

agora eu quero que você surfe em mim

que nasça das minhas asas

Pois sou sua melhor amiga, certo?

Você é Stephanie e eu Paulette

Você conhece todas as minhas caras

E é fácil fumar um, esquecer

Tudo acontece entre mim e você


Então nos amamos até as 4 da manhã

e não existe mais ninguém com quem eu queira estar

Agora à tarde sou a seringa e você a droga

Porque somos grandes amigos, certo?

 

AS UNIÕES POSSÍVEIS

Transalucinação de trechos da  prosa de Alejandra Pizarnik

Tenho visões de palavras escritas que se movem, combatem, dançam, sangram. Habitam um alfabeto de misérias e crueldade.

Aquela que devo cantar se enche de silêncio, murmura, sopra na pele um lamento.

Sou essa pequena que sorri na janela.

A boneca de tranças que nada se assemelha a mim.

Sou nome que me trás lembranças.

Disseram-me das flores. Segui olhando as flores.

Meu amor, dentro dos tímpanos, dos olhos, do sexo,

ferve a feroz nostalgia dos anjos.

Dentro dos gemidos, dos gritos

há um querer do outro que não é o outro.

Desejo um olhar que demore o tempo

de uma mão escrevendo meu nome

 em uma folha de papel.

Entrego-me, levito enquanto você me segreda a estranha ordem das coisas.

Há meses agonizo nesta espera e quando inicio o gesto tremo.

Existe amor da mesma maneira que na noite existe o vento.

Em um claro jardim ali estou dona dos meus quatro anos.

Dona dos pássaros celestes e dos pássaros roxos.

A rainha louca é minha professora de canto.

Obscenidade em alguns instantes do dia compartilhado

e da noite que é só minha.

Algo tênue como uns dedos abrindo minha memória ardente.

O peso fatal do triste e delicado perfume da açucena.

 

DIFICULDADE BARROCA

Transalucinação de trechos da  prosa de Alejandra Pizarnik

A consciência do fogo apagou a da terra e minha visão do mundo se resume a um adeus duvidoso e a um promissor nunca.

Tudo vive no interior, portanto um poema é incapaz de aludir à sombra visível.

Língua visceral, contadora dos fantasmas e das aparências:

Escrever não é para mim. Só de  pronunciar a palavra álcool, me embriago.

Eu, tão estrangeira, tão sem pátria, sem língua natal!

Há palavras que em certos dias não posso pronunciar.

Ah, esses dias em que minha língua é barroca e formulo frases intermináveis para sugerir palavras que se negam a ser ditas.

A pouco, quis dizer a D. :

– Se é que você morre de desejos por mim, venha, venha agora.

Porque talvez consiga com a língua do corpo dar a ele algo parecido a palavra escrever.

Então, chorando em seus braços, acariciando-o como se o houvesse ofendido mortalmente saberei que na verdade não o compenso, que na verdade continuo devendo.

 

APRENDIZADO OU A VIAGEM AO CENTRO DA TERRA

Transalucinação de trechos da  prosa de Alejandra Pizarnik

  1. pegou o pote onde estava escrito:

“Beba-me e verás coisas cujo nome não sonha o silêncio”.

A linguagem é um vácuo onde nenhum objeto parece ter sido tocado por mãos humanas.

Falo com a voz atrás da voz e com os mágicos sons da língua encantada.

Embriaga-me a luz que transforma minhas palavras em um esplêndido castelo de papel.

Permito-me visões e figuras pressentidas segundo os temores e os desejos do momento.

Sobrevoa-me a morte. Busco a saída.

Volto a mim e vejo uma dor que não acaba.

Luz estranha a todos nós. Em mim, tudo se diz com sua sombra.

Azul é meu nome.

Sou capaz de morrer por uma palavra mal pronunciada.

Os sofrimentos me dispensam de dar explicações.

Já não significa para mim a língua que herdei dos estrangeiros.

Sei bem que minha ferida não deixará de coincidir com a de alguma “supliciada”, que um dia me lerá com fervor por eu ter deixado de dizer que não tinha nada a dizer.

Eu falo a partir de mim.

Para sempre em meu ombro direito dois êxtases poéticos.

 

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA E DA MORTE

Transalucinação de trechos da  prosa de Alejandra Pizarnik

Eu estou sentada na cozinha com um fósforo queimado entre os dedos.

De novo  o medo de dar vida a um adjetivo.

Hoje à noite dormirei com minha boneca, a de olhos azuis que é linda como o poema e sua sombra.

A pequena marionete da sorte que bate na minha janela ao sabor do vento.

No inverno ela bate no vidro com seus pezinhos azuis e dança. Dança de frio, dança de alegria, dança para acalentar seu coração, seu coração de madeira, seu coração da sorte.

Ao entardecer ela ergue seus braços suplicantes e inventa a lua.

Visto tranquilamente o hábito da loucura

Encontrei um lugar solitário, próprio para chorar.

…………………………………………..


SONATA, APLAUSO, SUSPIRO

I  – TREZE CANÇÕES DE AMOR E MORTE PARA ALEJANDRA PIZARNIK

A gaiola virou pássaro, enfaixei suas mãos e coloquei sobre elas pesadas pedras.

Amordacei-as, para que você não sinta dor.

Seus dedos tocam a chuva.

A jaula virou muro, quebraram-se as xícaras e tenho um  milhão de cacos nos olhos.

Ceguei-os, para que você não sinta dor.

Chove e meus dedos tocam os seus.

Que a morte seja doce e nos vista de seda.

*

Crisálida pendurada no lustre da sala.

A luz de mercúrio não explica.

Noite adentro, asas dançam aos poucos

e vejo soar um ruflar imóvel.

*

Seu nome chão,

pai e pó.

Mãe,

seu nome.

Você chama.

Arde em mim Alejandra.

Alejandra,

Você,

Seu nome.

*

Um anjo sangra na sacada e ela,

ferida,

mergulha para dentro do sono.

Panos para sempre no varal da infância.

*

A ave sobre o banco do jardim

onde nos tocávamos.

Havia febre.

Sua ausência é essa chuva que me acompanha.

*

Ajoelhei-me para desamarrar as botas e percebi gotas de sangue no cadarço.

Chamei por seu nome Alejandra,

enquanto procurava por vestígios nas frestas dos tacos.

                                                                      *

Vidro líquido na retina

Corpo coberto de espelhos

Fogo Fátuo,

Hálito que perfuma meus pés.

*

O corpo lançado ao mar foi feito em pedaços por peixes famintos.

Nunca atraiu as românticas ostras,

que permaneceram fechadas sobre suas pérolas.

*

Um animal invade a noite trágica.

Com cólera de fera e sangue nos olhos,

rompe a margem do espelho.

*

Acabou o banquete dos mortos.

Na areia do deserto escrevo seu nome.

Alejandra,

Água viva

Sol aceso no céu da boca.

*

Punhos cerrados.

Escorre entre os dedos uma alma delicada de mulher.

*

Tenho medo de não saber nomear o que não existe.

Ela não existe.

*

Vem lua,

Vem sol e eu

jamais estive aqui nessa fogueira imprecisa.

Alejandra,

meu amor ,

me diga:

II – DE MÃOS DADAS COM MINHA IRMÃ NA MATA DAS BORBOLETAS

Espelho de ônix, meu avesso,

Reflexo do jardim da morte

onde adormeço.

Aqui, diante dos seus ossos,

reconheço-me possuída pela palavra.

Diante dessa pedra, seus cílios,

vejo olhos que piscam nas sombras.

Espelho de ônix, jardim espesso,

Reflexo do avesso da morte

Onde amanheço.

Lanternas vermelhas

escorrem do pulso,

queimam nas veias.

Estão acesas como a brasa de um pulmão.

Espelho do jardim de ônix meu endereço,

Manhã do escuro da morte

Onde me esqueço.

Vesti o colar de pedra e tateei seu fêmur.

Querubins desposaram o poema.

III – MÊNSTRUO NO LENÇOL DE LINHO

Com uma lasca abro as veias do pulso e um rio escorre e a lasca é pedra, seixo,

cascalho do rio.

longe um som de guizos entorpece o leito vermelho e acompanha a trilha que é pedra, lasca, corrente do rio.

Com os olhos fechados vejo luzes douradas no céu escuro que agora azul,é pedra,seixo, lasca no  pulso aberto do rio.

IV  – UM PAS DE DEUX SOBRE A LÂMINA DE CRISTAL DO PORTA-JÓIAS

Nem deu para sentir

Foi como uma leve fisgada

Morrer é deixar de existir

…………………………………………….

Na Germina. Poemas erótico-pornográficos.

…………………………………..

JARDIM DE TANKA

Sou pensamento.

Toco céu lantejoula eu

tronco dourado

Pulso aberto pouso

na seda bailarina

.

***

.

O balão Guignard

incendeia tela azul

e de névoa a cobre

No céu de um Ouro Preto

Homens Fel Tempos Sombrios

.

***

.

Venta sol no ipê

tapete de flor roxa

aos pés do tronco

Coloro com pétalas

as pedras do canto chão

.

***

.

Um pelicano

na rota do cardume

cintila no breu

voa sombra de um peixe meu

o sal é a pluma do mar

.

***

.

Som de janeiro

Fome de gafanhotos

apaga  a horta

No canteiro de couve

semeio cem borboletas

.

***

.

Cabeça de névoa

Música de cantaria

na Vila Rica

Nessa bateia eu sou só

Sonata perdida em dó

.

***

.

Num só poema

qualquer palavra mira

outra sílaba

Na verve de quem pena

pesa a pena da verve

.

***

.

Com pés descalços

arrasta sua corrente

o vagamundo

Lanterna da Etiópia

busca a fruta que acende

.

***

.

Inconfidente

No silêncio da cela

Ouve o chamado

Esculpe céu no verso

O cálamo estrelado
.

***

Mineral paixão

Procura a joia do rio

Seus olhos brilham

Sente sede e fome

Fere-lhe fluido cascalho

.
.

***

Palavra saga

Velocidade da luz

Som que afaga

Plenilúnio perfeito

Noites que ainda restam

***

.

Dia de São João

Vejo negro pássaro

Alma penada

Cidade assombrada

Seque minhas lágrimas

***

.

Antúrio fúcsia

em terra adubada

volve o passado

No pomar da minha aldeia

sou sumo folha viva

………………………………..

A MENOR PARTE


Que letra foi gravada em minha alma?
Qual palavra me formou?
Ando, caminho por corredores iluminados
pelos laranjas e amarelos das fotografias.
Trago as unhas escuras como as de quem procurou
por objetos na casa incendiada.

Venta sobre o mármore:

Esqueceram-me.

………………………………………

1

Apenas um reptil,

me compadeço da morte das nascentes.

Mesmo sendo frio meu sangue e eu apenas isso,

um reptil,

diante da grandeza extinta do rio,

me compadeço.

Estou sobre a terra e bebo pouco.

O sol racha a lama em losangos imperfeitos.

A vida arde no couro grosso que protege meu corpo.

Sou um reptil

E por isso não choro,

me compadeço.

2

No escuro, guardo os ovos para o próximo período.

Não sinto raiva, ansiedade ou medo.

Apenas um reptil,

fito os olhos do animal secando na areia do deserto.

Neste universo apinhado de estrelas, eu,

apenas um reptil,

me compadeço.

3

Diante da singularidade da natureza,

sou também natureza,

incapaz de pensar a minha natureza.

Trago na boca uma língua pegajosa que guarda o mistério

do último inseto.

O espaço está repleto de fantasmas

e o universo se alimenta de corpos que apodrecem.

Eu,

apenas um reptil,

não lamento o universo,

me compadeço.

………………………………….

Sinto falta de você que não existe.

Dedico esses versos a você que não existe.

Invento uma história para você que não existe.

Bebo, como, danço, sofro por você que não existe.

Mordo a boca, molho os lábios, tremo, enquanto

sonho

com você que não existe.

………………………………

ENGANOS

dias e dias e

dias, constantes,

teimosos, sem

valores, que nada

comportam…

que não se comportam!!!

…………………………………..

Non perdan esta páxina de DEZFACES, están ela e outr@s poestas moi interesantes

Aquí poden escoitala declamando.

Porxmeyre

2 comentarios en “Adriana Versiani, exploradora da palabra e do amor”
  1. Excelente apresentação da poeta brasileira Adriana Versiani dos Anjos. Belas palavras as suas. Muito cuidadosas e certeiras na construção da imagem dessa poeta que muito admiro.

    1. Sempre é un pracer presentar poesía desta calidade, como a de Adraiana. Fico moi contento de lle gustar a miña humilde presentación, Wagner…

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