Ana Guadalupe, a sobria poesía do simple

Porxmeyre

10/05/2020

Non resulta doado atopar datos bio-bibliográficos de Ana Guadalupe pola rede. Que neceu en Londrina (Paraná) en 1985. Que comezou publicando nos blogs Afectiva e Portal Liberal, sendo poeta inédita xa foi traducida para o castelán. Que publicou primeiro Relógio de pulso (7Letras, 2011?) e despois Não conheço ninguém que não seja artista (Confeitaria, 2015). E Preocupações (Macondo, 2019) Foi seleccionada para  a É agora como nunca- Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea  Brasileira, organizada por Adriana Calcanhotto, cantora e amante da poesía, e publicada na Companhia das Letras en 2017

 Tamén pubicou nalgunha revista portuguesa. E está presente en Otra línea de fuego- Quince poetas brasileñas ultracontemporâneas, a antoloxía bilingüe (portugués-castelán) de Heloisa Buarque de Hollanda de que temos falado anteriormente.

Teño que dicir que, abonda lela, a súa poesía parece falsamente simple, tamén é falsamente descritiva ás veces, porque no fondo aniña a interpretación, unha visión da vida moi persoal. Tamén se ten dito dela que practica un humor sagaz, e que os seus poemas só  son o punto de onde arrinca a reflexión lectora.

Na súa poesía eu acho certa influencia das crónicas, ese xénero tan brasileiro.

É unha das voces brasileiras de máis actualidade no eido poético.

Mantén unha páxina web  onde se poden ler artigos, noticias e poemas seus.

E nesta, unha relación ben cumprida da súa actividade.

Considero esta páxina de valía para se achegar á poesía de Ana Guadalupe

Guerra

tique nervoso
à espera de alguém
que venha

beber água
desabotoar as calças
jogar bola

atirar no macio
arrancar os músculos
acumular fôlego

pra sufocar
com o próprio peso
o peso do outro:

uma bigorna
um piano
um travesseiro

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso

……………………………

POLTRONA PARA ENTIDADES

rua não escureça
janela não se feche
persianas não venham com loucuras
a não ser na presença
de telas vigilantes
e de abajures sensíveis
ao toque
quando além dos nomes
se confundem os tornozelos
narizes idênticos
cílios bem distribuídos
se falta luz joelhos gêmeos
se movem retos do mesmíssimo
jeito

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso

……………………..

PASSÉ COMPOSSÉ

as escadas
pra perguntar sobre as palavras
derrubadas pelo meu sotaque

afirmei que meu amor é
enorme, um móbile
perdido entre arandelas;

disse que meu amor é
firme, retorna com maçãs
e canela nas pernas;

se perguntasse sobre a
fertilidade, os pernilongos,
a falta de sorte,

responderia que meu amor é
forte, chacoalha as árvores
sempre que parte.

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso

……………………………..

SEM QUERER ELISA

tropeça no tapete
a caminho da cozinha
à meia-noite

sem querer elisa
esqueceu as calcinhas
lavadas no banheiro
há 3 semanas

sem querer elisa
no quarto da frente
borrifa saliva
nas folhas
relógio

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso

…………………………..

três poetas

com um poema simplório 
o poeta disfarça pretensão 
só escreve em caso de tédio
e se rima ruim é por opção

com um poema médio
o poeta pode ser qualquer outro 
pisca os olhos pretos de novo
e a lua prata bate no prédio

com um poema pomposo
o poeta se leva muito a sério 
é lido no hall por um amante maldoso
que imita a voz do pica-pau


*


sustos & sustos

de pelo menos um susto 
todos nos recuperamos

o que muda é o conteúdo
que fica sobrando no chão

quando espremido o susto de um
esguicha repelente e algodão

o de outro deixa um rastro de fruta
pequeno cachorro sacrificado 

mas olha este que engraçado
explodiu orfanato e caco de vidro 


*


uma casa por ano

numa casa com aluguel atrasado 
falamos da chuva de granizo

numa casa movediça
o despertador toca mais cedo

de uma casa com incêndio
você talvez não saia a tempo

numa casa no deslizamento 
morremos pensando que pena

numa casa pequena 
não cabem os panos de prato 

sem uma casa arejada
você cheira a cachorro molhado

numa casa sem amor 
todos arrumam outros planos

numa casa às pressas
tem coisas que você deixa 

numa casa por ano
é melhor nem abrir essas caixas


*


o que enfim vai destruir a aspereza

será ave?
gaivota que na janela se revela pomba
mesmo assim um voo impressionante 

será vontade?
um sentido repentino que assalte
a coragem de tirar a roupa antes

será ônibus?
semileito ou leito-cama
de bruços ninguém chega longe

será homem?
surgirá no carnaval de peruca?
conseguiremos nos ver no meio da ponte?

será água?
submersos por acidente voltamos no tempo
e talvez encontremos 
a concha

Porxmeyre

Un comentario sobre «Ana Guadalupe, a sobria poesía do simple»

Deixa unha resposta

O teu enderezo electrónico non se publicará Os campos obrigatorios están marcados con *

Skip to content