Non resulta doado atopar datos bio-bibliográficos de Ana Guadalupe pola rede. Que neceu en Londrina (Paraná) en 1985. Que comezou publicando nos blogs Afectiva e Portal Liberal, sendo poeta inédita xa foi traducida para o castelán. Que publicou primeiro Relógio de pulso (7Letras, 2011?) e despois Não conheço ninguém que não seja artista (Confeitaria, 2015). E Preocupações (Macondo, 2019) Foi seleccionada para a É agora como nunca- Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea Brasileira, organizada por Adriana Calcanhotto, cantora e amante da poesía, e publicada na Companhia das Letras en 2017
Tamén pubicou nalgunha revista portuguesa. E está presente en Otra línea de fuego- Quince poetas brasileñas ultracontemporâneas, a antoloxía bilingüe (portugués-castelán) de Heloisa Buarque de Hollanda de que temos falado anteriormente.
Teño que dicir que, abonda lela, a súa poesía parece falsamente simple, tamén é falsamente descritiva ás veces, porque no fondo aniña a interpretación, unha visión da vida moi persoal. Tamén se ten dito dela que practica un humor sagaz, e que os seus poemas só son o punto de onde arrinca a reflexión lectora.
Na súa poesía eu acho certa influencia das crónicas, ese xénero tan brasileiro.
É unha das voces brasileiras de máis actualidade no eido poético.
Mantén unha páxina web onde se poden ler artigos, noticias e poemas seus.
E nesta, unha relación ben cumprida da súa actividade.
Considero esta páxina de valía para se achegar á poesía de Ana Guadalupe
Guerra
tique nervoso
à espera de alguém
que venha
beber água
desabotoar as calças
jogar bola
atirar no macio
arrancar os músculos
acumular fôlego
pra sufocar
com o próprio peso
o peso do outro:
uma bigorna
um piano
um travesseiro
Ana Guadalupe, Relógio de Pulso
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POLTRONA PARA ENTIDADES
rua não escureça
janela não se feche
persianas não venham com loucuras
a não ser na presença
de telas vigilantes
e de abajures sensíveis
ao toque
quando além dos nomes
se confundem os tornozelos
narizes idênticos
cílios bem distribuídos
se falta luz joelhos gêmeos
se movem retos do mesmíssimo
jeito
Ana Guadalupe, Relógio de Pulso
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PASSÉ COMPOSSÉ
as escadas
pra perguntar sobre as palavras
derrubadas pelo meu sotaque
afirmei que meu amor é
enorme, um móbile
perdido entre arandelas;
disse que meu amor é
firme, retorna com maçãs
e canela nas pernas;
se perguntasse sobre a
fertilidade, os pernilongos,
a falta de sorte,
responderia que meu amor é
forte, chacoalha as árvores
sempre que parte.
Ana Guadalupe, Relógio de Pulso
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SEM QUERER ELISA
tropeça no tapete
a caminho da cozinha
à meia-noite
sem querer elisa
esqueceu as calcinhas
lavadas no banheiro
há 3 semanas
sem querer elisa
no quarto da frente
borrifa saliva
nas folhas
relógio
Ana Guadalupe, Relógio de Pulso
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três poetas
com um poema simplório
o poeta disfarça pretensão
só escreve em caso de tédio
e se rima ruim é por opção
com um poema médio
o poeta pode ser qualquer outro
pisca os olhos pretos de novo
e a lua prata bate no prédio
com um poema pomposo
o poeta se leva muito a sério
é lido no hall por um amante maldoso
que imita a voz do pica-pau
*
sustos & sustos
de pelo menos um susto
todos nos recuperamos
o que muda é o conteúdo
que fica sobrando no chão
quando espremido o susto de um
esguicha repelente e algodão
o de outro deixa um rastro de fruta
pequeno cachorro sacrificado
mas olha este que engraçado
explodiu orfanato e caco de vidro
*
uma casa por ano
numa casa com aluguel atrasado
falamos da chuva de granizo
numa casa movediça
o despertador toca mais cedo
de uma casa com incêndio
você talvez não saia a tempo
numa casa no deslizamento
morremos pensando que pena
numa casa pequena
não cabem os panos de prato
sem uma casa arejada
você cheira a cachorro molhado
numa casa sem amor
todos arrumam outros planos
numa casa às pressas
tem coisas que você deixa
numa casa por ano
é melhor nem abrir essas caixas
*
o que enfim vai destruir a aspereza
será ave?
gaivota que na janela se revela pomba
mesmo assim um voo impressionante
será vontade?
um sentido repentino que assalte
a coragem de tirar a roupa antes
será ônibus?
semileito ou leito-cama
de bruços ninguém chega longe
será homem?
surgirá no carnaval de peruca?
conseguiremos nos ver no meio da ponte?
será água?
submersos por acidente voltamos no tempo
e talvez encontremos
a concha
This was a loovely blog post