Márcia Vieira da Silva, nacida en Belém dos Solimões en 1979, adoptou o nome indíxena Wayna seguido do do seu pobo orixinario, o kambeba/omagua. Resulta, pois, unha poeta máis nova, unha poeta dunha xeración máis nova que Graça Graúna ou Eliane Potiguara, antes diculgadas nestas páxinas. Da súa poesía tense dito que garda parecido co cordel nordestino. E é certo, fomalmnte adopta a forma rimada. E é tamén certo que o acontecer diario é influente nos seus poemas. Mais aí rematou todo. Son parecidos con otros moitas poesías de otros moitos lugares que, xeograficamente, poden ser ben distantes.
Na niña opinión ese gardar parecido co cordel nordestino non é máis que outra forma de silenciar o máis importante: a de Márcia Wayna Kambeba é unha poesía de resistencia fronte ao colonialismo atroz aínda vixente. Si, finais do seculo XX/princiìos do século XXI o afán colonialista branco non cesou, segue vivo, seue imperante. A mesma Márcia Wayna denuncia come ela propia foi escravizada por monxas, e como a xente nova se resistía/resiste a abandonar as súas crezas en favor doutra relixiosidade que as nega, chegando mesmo a inxerir DDT, morrer antes que ser asimilad@ pola “cultura” (que “cultura” ha ser esa?) do colonizador.
Abandonar a súa lingua,a súa fala, e os seus costumes comocondicón para ingresar no mundo do colonizador. Nada novo, coñecémolo tan ben @s galeg@s…. mais aínda segue, tanto séculos despois, activo e vixente.
De influencias falando, non se procuren referentes da poesía de Márcia Wayna entre autorías cultas. Para nada. O seu referente é sempre a cultura indíxena, en principio familiar, despois, co tempo, aspirante á universalidadse indíxena no Brasil, no posíbel, porque son aínda moitas etnias.
O seu primeiro libro Ay kakyri tama-Eu moro na cidade foi publicado en 2018, na Editora Pólem (outras fontes sinalan repetidamente a editora Grafisa). Tamén lle coñezo Kumiçá Jenó, que hai pouco viu a luz na editora estadounidense Underline Publishing.
Muller multifacética, Márcia Kambeba é formada en Xeografía, mais ela tamén é cantora, compositora, fotógrafa, activista pro indíxena. E a primeira muller a cupar cargo político destacado no Brasil, na prefectura de Belém.
A súa poesía -os eus libros, que non só conteñen poesía- constitúen unha estatexia de resistencia fronte ao colonizador, xa o dixemos, mais tamén unha estratexia de preservar no tempo o saber indíxena, pois a transmisión oral é limitada no tempo, limitada a que non se rompa a cadea de transmisión, limitada polo afán colonizador. A vida do pensamento indíxena, posta en verso, é unha vida para sempre.
Por iso, na súa poesía, que seleccionamos e poderán ler despois, non procuren artificios cultos. Non. A súa poesía é sinxela como é verdadeira, sinxela como a auga, verdadeira como a auga ( o pobo kimpeba é o pobo da auga). Porque vai dirixida ao pobo indíxena, que non entendería artificios cultos/brancos, que o que necesita é poñer por escrito a súa cultura e recoñerse nela. Recoñecerse nela, pois, como ben di a propia Márcia Wayna, non por vivir en ciudades a xente indíxena perde as súas raíces, a súa cultura. A súa cultura, as súas raíces, o seu saber, van onde @s indíxenas van, moran onde eles/elas moran.
É desde os anos 90 do pasado século que cultura indíxena comeza expresarse de forma escrita, sobre todo desde os 90¨. Estamos, pois, ante unha das poesías do Brasil máis novas. Tamén das máis interesantes, das menos contaminadas pola “cultura”(‘?)” colonizadora/invasora. E reflicte unha forma de ver/entender o mundo propia, peculiar, que debe ser preservada en lugar de combatida, polo ben da humanidade.
Desde aquí, desde este lado do Atlántico, toda a nosa solidariedade.
Como sempre, deixo ligazón para o seu Facebook, onde poderán ler máis poesía dela.
Ios coa súa poesía
(En Libro e cafe)
Silêncio Guerreiro
No território indígena
O silêncio é sabedoria milenar
Aprendemos com os mais velhos
A ouvir, mais que falar.
No silêncio da minha flecha
Resisti, não fui vencido
Fiz do silêncio a minha arma
Pra lutar contra o inimigo.
Silêncio é preciso,
Para ouvir o coração,
A voz da natureza
O choro do nosso chão.
O canto da mãe d’água
Que na dança com o vento
Pede que a respeite
Pois é fonte de sustento.
É preciso silenciar
Para pensar na solução
De frear o homem branco
E defender o nosso lar
Fonte de vida e beleza
Para nós, para a nação!
Ser indígena – Ser omágua
Sou filha da selva, minha fala é Tupi.
Trago em meu peito,
as dores e as alegrias do povo Kambeba
e na alma, a força de reafirmar a
nossa identidade
que há tempo ficou esquecida,
diluída na história
Mas hoje, revivo e resgato a chama
ancestral de nossa memória.
Sou Kambeba e existo sim:
No toque de todos os tambores,
na força de todos os arcos,
no sangue derramado que ainda colore
essa terra que é nossa.
Nossa dança guerreira tem começo,
mas não tem fim!
Foi a partir de uma gota d’água
que o sopro da vida
gerou o povo Omágua.
E na dança dos tempos
pajés e curacas
mantêm a palavra
dos espíritos da mata,
refúgio e morada
do povo cabeça-chata.
Que o nosso canto ecoe pelos ares
como um grito de clamor a Tupã,
em ritos sagrados,
em templos erguidos,
em todas as manhãs!
Tana Kumuera Ymimiua
[nossa língua ancestral]
Não se pode dizer que os Kambeba
Esqueceram a língua Tupi
Ainda existem falantes
Que não a deixam sumir
No ensinamento dos que sabem
Memorizo o que aprendi.
Kumiça yuria! Kumiça ypaçu!
[Fala, mata! Fala, lago!]
May-tini na sua grandeza
Por não conseguir entender
Viu nossa fala com estranheza
Português fez o povo aprender.
Mas os Kambeba com esperteza
Ensinavam em segredo
Superando o que seria
O fantasma do seu medo.
A língua não é determinante
Para se poder dizer
Que um indígena não é Kambeba
Por não saber escrever
Na língua do seu povo
A afirmação está no seu ser.
[Tradução de May-tini: homem branco]
Ay kakuyri tama
[Eu moro na cidade]
Ay kakuyri tama.
Ynua tama verano y tana rytama.
Ruaia manuta tana cultura ymimiua,
Sany may-tini, iapã iapuraxi tanu ritual.
Tradução:
Eu moro na cidade
Esta cidade também é nossa aldeia,
Não apagamos nossa cultura ancestral,
Vem homem branco, vamos dançar nosso ritual.
Nasci na Uka sagrada,
Na mata por tempos vivi,
Na terra dos povos indígenas,
Sou Wayna, filha da mãe Aracy.
Minha casa era feita de palha,
Simples, na aldeia cresci
Na lembrança que trago agora,
De um lugar que eu nunca esqueci.
Meu canto era bem diferente,
Cantava na língua Tupi,
Hoje, meu canto guerreiro,
Se une aos Kambeba, aos Tembé, aos Guarani.
Hoje, no mundo em que vivo,
Minha selva, em pedra se tornou,
Não tenho a calma de outrora,
Minha rotina também já mudou.
Em convívio com a sociedade,
Minha cara de “índia” não se transformou,
Posso ser quem tu és,
Sem perder a essência que sou,
Mantenho meu ser indígena,
Na minha Identidade,
Falando da importância do meu povo,
Mesmo vivendo na cidade.
Território ancestral
Maá munhã ira apigá upé rikué
Waá perewa, waá yuká
Waá munhã maá putari.
Tradução:
O que fazer com o homem na vida,
Que fere, que mata,
Que faz o que quer.
Do encontro entre o “índio” e o “branco”,
Uma coisa não se pode esquecer,
Das lutas e grandes batalhas,
Para terra o direito defender.
A arma de fogo superou minha flecha,
Minha nudez se tornou escandalização,
Minha língua foi mantida no anonimato,
Mudaram minha vida, destruíram o meu chão.
Antes todos viviam unidos,
Hoje, se vive separado.
Antes se fazia o Ajuri,
Hoje, é cada um para o seu lado.
Antes a terra era nossa casa,
Hoje, se vive oprimido.
Antes era só chegar e morar,
Hoje, nosso território está dividido.
Antes para celebrar uma graça,
Fazia um grande ritual.
Hoje, expulso da minha aldeia,
Não consigo entender tanto mal.
Como estratégia de sobrevivência,
Em silêncio decidimos ficar.
Hoje nos vem a força,
De nosso direito reclamar.
Assegurando aos tanu tyura,
A herança do conhecimento milenar
Mesmo vivendo na cidade,
Nos unimos por um único ideal,
Na busca pelo direito,
De ter o nosso território ancestral.
O que fazer com homem na vida
Que fere, que mata,
Que faz o que quer?
(Na AcroBata)
Índio eu não sou
Não me chame de “índio” porque
Esse nome nunca me pertenceu
Nem como apelido quero levar
Um erro que Colombo cometeu.
Por um erro de rota
Colombo em meu solo desembarcou
E no desejo de às Índias chegar
Com o nome de “índio” me apelidou.
Esse nome me traz muita dor
Uma bala em meu peito transpassou
Meu grito na mata ecoou
Meu sangue na terra jorrou.
Chegou tarde, eu já estava aqui
Caravela aportou bem ali
Eu vi “homem branco” subir
Na minha Uka me escondi.
Ele veio sem permissão
Com a cruz e a espada na mão
Nos seus olhos, uma missão
Dizimar para a civilização.
“Índio” eu não sou.
Sou Kambeba, sou Tembé
Sou kokama, sou Sataré
Sou Guarani, sou Arawaté
Sou tikuna, sou Suruí
Sou Tupinambá, sou Pataxó
Sou Terena, sou Tukano
Resisto com raça e fé
Os filhos das águas dos Solimões
A água é a mãe que sustenta
A vida que nasce como flor
Alimenta a planta e o ser vivente
É estrada onde anda o pescador.
Na enchente, vem veloz e furiosa
Derrubando ribanceiras e plantações
Afeta a vida do indígena e ribeirinho
É um ciclo, que se renova a cada estação.
Na vazante o rio quase some
E a praia começa a surgir
A água, agora bem calminha
Não tem forças para a roça destruir.
Nas margens de um rio em formação
Vive um povo que a água fez nascer
Em um parto de dor e emoção
Na várzea o Kambeba escolheu viver.
Mas em um contato fatal
Com um povo mais socializado
Fez dos herdeiros das águas
Um povo desaldeado.
Tomando seu solo sagrado
Sem dor, piedade ou compaixão
Os Kambebas foram escravizados
Apresentados a “civilização”
Exploraram a sua força
Forjando uma falsa proteção.
………………………..
(No Recanto das letras)
Covid-19 e os povos originários
Resistência indígena https://www.recantodasletras.com.br/poesias-patrioticas/7028130
Nesta páxina atoparán vostedes moitas máis
………………….
(En Educapes)