Outro dos nomes que ecoan con moi poetente voz propia na máis nova poesía brasileira, é o de Bruna Beber. Poeta carioca nacida no 1984, os seus poemas son coñecidos na Alemania, en Portugal (significativo, isto), México, Italia ou Estados Unidos. E traducida ao castelán. Non é, pois, flor de un día. E cómpre que tamén sexa coñecida na Galiza. Xa. Tamén se ten desempeñado como tradutora, e na crónica (ese xénero tan brasileiro) ou como xornalista. Alén dos poemarios publicados : Rapapés & apupos (Edições Moinhos de Vento, 2010; Ed. 7Letras, 2012), Balés (Ed. Língua Geral, 2009), A fila sem fim dos demônios descontentes (Ed. 7Letras, 2006), Rua da Padaria (Ed. Record, 2013) e Ladainha (Ed. Record, 2017), tamén participou en obras colectivas: Otra línea de fuego (Ed. Selo Maremoto, 2009), antoloxía española de poesia brasileira contemporánea organizada por Heloísa Buarque de Hollanda e Teresa Arjón, en edición bilingüe), Traçados Diversos, antologia de poesia contemporânea (Ed. Scipione, 2009), Poesia do dia: poetas de hoje para leitores de agora (Ed. Ática, 2008), Caos portátil: poesía contemporánea del Brasil (Ed. El Billar de Lucrecia, 2007) ou Amar, verbo atemporal , Ed, Rocco, 2012).
Fíxose notar desde o primeiro momento ( A fila sem fim dos demonios descontentes, 2006), mais foi con Rapapés & apupos (2010, reeditado en 2012) que xa se fixo un nome imprecindíbel da nova poesía brasileira. Tamén incursionou no teatro, na poesía para os máis novos ou nos microcontos, alén de se mosar sempre interesada no produto audiovisual en diversos formatos. Particularmente interesante é o seu proxecto Programa Poesia Visual, baixo curadoría de Alberto Saraiva.. Tamén é unha das máis notábeis divulgadoras da poesía. Non só da poesía escrita en papel senón sobre calquera superficie ( véxanse máis adiante os seus poemas,ou instalacións poéticas, visuais). E tamén, tamén se poden atopar polo youtube entrevistas e recitados seus.
Dos seus poemas tense ditos que combinan de maneira moi orixinal humor e melancolía, reflexiona sobre o propio oficio de escribir, abaneando entre o sublime e o banal e sen descoidar o cadro paisaxístico brasileiro en que se desenvolve a vida ( Elfi Kürten Freske, que xa será nome coñecido para quen siga estes artigos divulgadores da nova poesía brasileira.)
Bruna tamén ten presencia na rede e aí se poden ler máis textos da autora.
Imos coa súa poesía:
coleciono mas não leio
cartas antigas, anúncios de almanaque
em latas de goiabada nolasco
sei que estou em permanente mudança
porque todos os dias abro e fecho
gavetas e caixas
no entanto aprendi pouco sobre apostas
e temporais, só sei que levam
muito mais do que trazem.
(de Balés)
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deve ser perigoso
esse gosto recorrente
de incêndio na boca
mas não há saliva pra apagar
e não há saliva que apague
por isso falo pouco
não sei o que de fato queima
fecho a boca e o fogo sai
pelo nariz
respiro mal, meu ar é qualquer fumaça
queria um gosto bom, queria pernas
pra sair correndo.
(de Balés)
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durante toda minha caminhada
pela bola que uns chamam
de terra e outros de água
ou como carinhosamente
já apelidaram um amigo
balofo no colégio
só consegui
tomar posse
de uma certeza
e por isso gostaria
de dividi-la passem
para os seus filhos:
não há
sequer
um ser
humano que caminhe
pela bola – há quem
a diga achatada –
que não tenha
não teve
ou nunca terá
uma
toalha
bordada
é importante
que seus filhos
passem pros deles
essa verdade
mas se não tiverem
filhos netos tudo bem
sempre terão toalhas
bordadas.
(de Rúa da padaría)
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Plantei uma goiabeira
dentro do banheiro
e a cigarra veio
morar comigo
Desde então tomo banho
de óculos, uma sensação
de melancolia molhada
que aprecio
Mas não amo, amor é o que vejo
semear, romper e brotar
da barriga da cigarra
uma parceria:
O canto
é ancestral, adquirido
às vezes peço uma canção
ela não tem ouvidos
Seu olho esbugalhado
de sapo explosivo
o meu inchado
de chorar sem motivo
Estou satisfeita,
mas não devo esperar
nada, é como criar
uma sereia.
(de Ladainha)
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Ando cansada.
Ando cansada da perna
Ando cansada da veia
Ando cansada do pé
É a musculatura, a ossatura
e a fascite plantar. Metatarsalgia,
Neuroma de Morton, rígido hálux
Ando muito devagar. É informação,
é inflamação. E o que não é dedo,
é tornozelo ou calcanhar
Ando muito cansada dos cigarros
que eu fumo porque eles se fumam
sozinhos quando venta.
Ando cansada de pólvora.
(de Ladainha)
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Sei que não é o momento
mas espere um instante
escrevi a resposta
letra sincera, simulada educação
e cheguei ao final
morrendo de sede
Sei que não é o momento
mas espere, estava deserta
a casa, fiz uma ligação
para povoar a casa,
mas não fui atendida
que bom
Sei que não é o momento
mas aqui do lado tem ferrovia
o trem passa dentro de casa
o trem passou
passou como quem desiste
o trem raramente desiste de passar
E amanhã, amanhã
eu juro, amanhã eu vou
sair de casa
com a carta
pra longe
do trem
Sei que não é o momento
mas a carta não diz nada
demais, é como tudo
depois de tudo
a carta sou eu dormindo
a carta é alguém
jantando no escuro
Sei que não é mas eu digo
e vou dizer na ligação
assim que for atendida
e fui e é sua
a opção de deixar
o telefone no mudo
Sei que ele é quem persevera
célere, enérgico, vivaz
ligo, escrevo, canto, rio
para falar do instante
como este que dividimos agora
(de Ladainha)
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Sempre limpo os pés antes de entrar
no sono e aí um frango inteiro lindo
e cru me tira para dançar
O filme é a revolta dos folclores e o mundo
se carameliza em bosta, toda vaca
é gordona e a terra cinza de papel
Os prédios têm mais nome de mulher
que nome de homem, e o azul é o azul
céu do centro-oeste brasileiro
Uma TV a flores ligada
na cena de um mandacaru
nascendo no dedão do pé
Bate aquela vontade de voar
e de descer a escada de barriga
pelo corrimão, cair de cara e morrer
Mas tomar distância num copo de pinga
beber leite pra brincar, depois pinga
depois distância de novo e cantar
A cabeça suja é boa para as coisas
que fazemos em cima dos castanheiros
por exemplo nada, e também um poema.
( de Ladainha)
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Quanto tempo falta pra gente se ver hoje
Quanto tempo falta pra gente se ver logo
Quanto tempo falta pra gente se ver todo dia
Quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre
Quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não
Quanto tempo falta pra gente se ver às vezes
Quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos
Quanto tempo falta pra gente não querer se ver
Quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais
Quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu
Quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer
Quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu
(de Amar, verbo atemporal. Antoloxía de poesía que tematiza o amor, ao coidado de Celina Portocarrero, 2012. Curiosamente este poema publicado nunha antoloxía xunto con outras autorías, converteuse nun dos seus poemas emblemáticos)
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tudo tem barulho de mar
enceradeira isopor carro
em movimento aerosol
espirro pistola moeda
telha bombardeio cigarro
queimando pia degradê
cãimbra inseto monge
sua vizinha o futuro
tem barulho de mar
na camiseta no quadro
chinelo aeroporto gaiola
panela caverna birita
beijo tem biblioteca
também um curió bola
de chiclete sobretudo
um dinossauro alado
tem mar de todo tipo
de barulho e dentro
de cada mar um ralo
entupido de cabelos.
(de Rúa da padaría)
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Tamén traballou a poesía visual. Brinquedos espalhados deu inicio a un proxecto que iría mudando de nome até volver ao principio. Aquí, poden ler a historia deste proxecto, e botarlle u nolllo á súa poesía visual.
[…] importante saber con quen ela máis sente en diálogo a súa poesía. E son: Ruben da Cunha Rocha, Bruna Beber, Leonardo Froés, Edra Poud e Herberto Helder. E entre as autorías que ela sente máis próximas, […]
[…] importante saber con quen ela máis sente en diálogo a súa poesía. E son: Ruben da Cunha Rocha, Bruna Beber, Leonardo Froés, Edra Poud e Herberto Helder. E entre as autorías que ela sente máis próximas, […]